Nunca dei muita importância para o Antigo Testamento e assim permanente quando percebi que São Jerônimo foi enganado pelos judeus, ao utilizar os textos em hebraico, bastante alterados, contra o texto dos judeus de Alexandria, em grego, e utilizado pelos primeiros cristãos. Curiosamente, os protestantes e, depois, os evangélicos não seguiram nenhum erro e continuaram a tradição católica de usar o hebraico sobre o grego.

Porém, relendo agora Jó e sabedor dos problemas deste livro, resolvi lê-lo em nossa Bíblia em português e na Septuaginta (LXX) em grego e sua tradução em português. Nem a tradução da LXX parece fiel ao grego, não sou especialista em grego, mas sei da diferença, por exemplo, de sark (carne, como em sarcófago) para soma (corpo, como em somático).

O conhecido professor Emanuel Tov, em seu livro “The Greek And Hebrew Bible”, afirma que a LXX é a fonte mais importante para o reconhecimento de leituras hebraicas que cobrem o Texto Massorético (em hebraico). A maioria dessas variantes textuais é relevante para a crítica textual da Bíblia, mas algumas também têm impacto na crítica literária.

A LXX também tem uma exegese de seus tradutores. Alguns livros são particularmente significativos nesse aspecto, já que suas tradições exegéticas revelam muito sobre o contexto cultural e intelectual de seus tradutores, especialmente Isaías, Jó e Provérbios.

A LXX não é apenas uma tradução, os tradutores da LXX realizam um vocabulário de grego de tradução que teve grande influência sobre a literatura judaico-grega subsequente: Filo, Josefo, escritos históricos, exegéticos, poéticos e apologéticos judaico-gregos e os chamados Pseudoepígrafos (Testamentos dos Doze Patriarcas, Testamento de Abraão, Testamento de Jó, José e Asenate, etc.).

Os judeus estenderam os textos hebraicos com exceção de Jó que foi limitado e teve uma tradução mais livre. Algo que sempre me incomodou e nunca consegui uma resposta adequada até ler o livro “The Dead Sea Scrolls Bible” de Martin Abegg Jr., Peter Flint e Eugene Ulrich.

O texto hebraico de Jó é o mais problemático encontrado na Bíblia. Ainda mais por ser poesia, uma obra dramática e que, possivelmente, não tem origem israelense.

Foram encontrados em Qumran apenas fragmentos de quatro manuscritos. Curiosamente, um de dados muito antigo (cerca de 225-150 aC), foi inscrito no arcaico alfabeto paleo-hebraico, comum antes do exílio babilônico (587-539 aC), como os Livros de Gênesis a Deuteronômio. A tradição rabínica atribuída ao livro de Jó a Moisés. Ainda foram encontradas duas cópias aramaicas do livro.

O próprio texto hebraico (Massorético), às vezes, é obscuro, e os tradutores precisam fazer suposições. A maioria das variantes é bastante pequena: singular em vez de plural, transposição da ordem das palavras, presença ou ausência de uma palavra pequena que não acrescenta significado ou que é implícita. Em uma ocasião, o 4QJoba usa uma forma mais familiar da palavra “Deus” (Jó 33,26), em outra, tem uma partícula negativa que não está no texto tradicional (Jó 37,1). Como se vê, de difícil entendimento.

 

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