Nas regiões com grande concentração de escritórios, o trabalho em home office e as medidas de restrição reduziram drasticamente a clientela – e têm provocado o fim – de estabelecimentos formatados especialmente para servir refeições rápidas para quem almoça fora, um sucesso de público até a pandemia: os restaurantes por quilo ou self-service.
Em São Paulo, em bairros como Itaim Bibi, Vila Olímpia, Brooklin, Faria Lima, no lugar das cenas de filas na entrada dos restaurantes e de grupos de colegas de trabalho caminhado pelas calçadas, agora o que se vê são placas de “vende ou aluga” nas fachadas de diversos negócios que sucumbiram à crise.
Nos ‘quilos’ que continuam com as portas abertas, o número de clientes por dia não chega nem a 10% do movimento pré-Covid.
Empresários relataram ao portal G1 a desvalorização de bens e perda de dinheiro na hora de fechar o negócio em meio à falta de clientes, além de desequilíbrio nas contas ao tentar investir no serviço de entrega ou manter o salão aberto para pouca gente. Apesar disso, a expectativa é que é o self-service volte a ganhar espaço após a intensificação da vacina contra a Covid-19 no país.
Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), antes da pandemia eram 200 mil restaurantes deste tipo espalhados pelo país. Agora, a estimativa é que o número tenha sido reduzido para 120 mil. Ou seja, 80 mil estabelecimentos do gênero deixaram de existir.
O setor de bares e restaurantes tem sido um dos mais atingidos pela pandemia. A associação estima que 335 mil bares e restaurantes já encerraram as atividades em definitivo no país, considerando todos os segmentos, com uma extinção de 1,3 milhão de postos de trabalho.
Só no estado de São Paulo, cerca de 50 mil estabelecimentos fecharam as portas, sendo 12 mil na capital paulista.
Futuro do quilo
Com a permanência do home office e incertezas em torno da reabertura total da economia, o movimento de devoluções de imóveis ou de redução da área de escritórios nos grandes centros urbanos segue em alta.
Levantamento da consultoria JLL, que monitora o mercado imobiliário, mostra que a chamada taxa de vacância, que calcula o percentual de imóveis vazios, voltou a crescer em São Paulo no 1º trimestre, atingindo 24,1%, contra 22,4% no final do ano passado.
Na cidade de São Paulo, as regiões com maiores devoluções de imóveis em prédios de escritórios no 1º trimestre foram a da Marginal Central (-36,4 mil m²), a da Berrini (-28,0 mil m²), a Faria Lima (-13,6 mil m²) e Alphaville (-10,7 mil m²).
A avaliação geral é que o esvaziamento das áreas comerciais deve permanecer até que a população esteja vacinada e se sinta mais segura para voltar a circular pelas ruas. É praticamente consenso, porém, que o futuro do trabalho tende a ser de modelo híbrido, com divisão entre dias presenciais e em casa, o que resultará numa movimentação menor de pessoas no ambiente de trabalho e em mudanças nas rotinas e áreas dos escritórios.
Embora a sobrevivência dos restaurantes por quilo dependa da aceleração da vacinação e da volta dos trabalhadores aos escritórios, a avaliação do setor é que o sistema self-service não irá morrer.
“Vai abrir um buraco no mercado, mas será preenchido por outros empresários que vão aparecer. O restaurante por quilo é um verdadeiro achado, uma tremenda solução para quem quer almoçar de forma rápida e equilibrada. Não vai acabar nunca. Mas, infelizmente, esses que estão fechando talvez não voltem mais”, lamenta o presidente da Abrasel-SP.
Para os empresários, o que determinará o futuro do self-service é a demanda. “É o sistema mais justo, o cliente pega o que ele quer”, afirma Maria Teresa, lembrando que o protocolo inicial que recomendava que funcionários servissem os pratos foi rapidamente rejeitado pelo público.
“Deu muita confusão. Um queria o feijão em cima do arroz, o outro, do lado. Ninguém quis, tanto que foi abandonado”, diz.
Horita também acredita que o público voltará a preferir o sistema self-service e diz que pretende retomar o bufê por quilo assim que a clientela dos escritórios reaparecer.
Já Meire mantém o sonho de voltar a ter um restaurante próprio, mas talvez em um outro formato. “Eu acredito que no ano que vem vamos ter um quadro diferente. Daí pode começa a dar aquele comichão de abrir de novo, talvez um bistrô ou uma coisa pequena”, afirma.
Fonte: G1