Uma lista com nomes de infectados pela COVID-19 em Escarpas, Capitólio, no Sul de Minas Gerais, está rodando no WhatsApp dos jovens que frequentaram o local durante as festas de fim de ano. Chamada de “Coronados”, a lista foi criada como forma de identificar contaminados e repercutir a disseminação do vírus. Local escolhido pela maioria dos jovens de 18 a 25 anos, a região paradisíaca e luxuosa foi fonte de festas, com muita aglomeração e sem nenhum tipo de proteção. De volta a Belo Horizonte, agora esses jovens circulam pela população.

Reportagem do jornal Estado de Minas foi a fundo e conversou com três pessoas que frequentaram a cidade de Capitólio durante o último feriadão. Os jovens, que preferiram não se identificar, relataram como foi estar em meio às festas e quais medidas foram tomadas ao chegarem na capital mineira.

“Escarpas estava lotado. Os carros chegavam a parar no meio da rua onde tinha festa e ficavam buzinando. Era normal entrar numa rua e achar quatro festas gigantes com muita gente. De vez em quando, chegava polícia e pedia para abaixar o som. Outra coisa que a gente fazia era sair de barco. Mas nesses ‘rolês’ tinha muita gente. Tinha um deck que sempre estava cheio, evitei ir para lá”, explica I.T., de 21 anos.

Segundo I.T., a lista dos “coronados” foi a solução que os jovens arrumaram para identificar os contaminados. Apesar disso, de acordo com ele, existem mais pessoas que contraíram o vírus e que estiveram nas festas e aglomerações. Ele também conta que não sentiu medo, por saber que estava entre jovens e por não manter contato com ninguém do grupo de risco da doença.
B.R., de 22, também esteve nas festas da cidade. Ela comenta que escolheu o local luxuoso, porque Escarpas seria o destino de suas amigas e colegas. “Desde o início, quando decidi ir para essa viagem, eu sabia do risco que estava correndo”, explicou.

“Foram várias cenas de negligência. Infelizmente, a máscara não era uma coisa recorrente. Acho que as pessoas que foram para Escarpas, assim como eu, deveriam ter um pouco de empatia e responsabilidade, porque as pessoas que resolveram ficar em BH não devem sofrer com as consequências de algo que elas não escolheram fazer. Então, devemos seguir o isolamento e fazer o teste na hora certa”, explica.

Ainda segundo B.R., ela pagou cerca de R$ 3 mil pela viagem e está em isolamento desde que chegou a Belo Horizonte. Ela também diz que não saiu do quarto e pega refeições diárias com sua mãe. “Pretendo fazer o teste assim que possível”, explica.

B.Z., de 19, contou que a lista está equivocada. Isso porque, segundo ela, muitos nomes ainda não fizeram o teste. “Muita gente pegou. Não tem como negar. Tem nome na lista que não fez o teste e tem pessoas que deram positivo e não estão lá”, explica.

“Fiquei receosa porque sabia que estava em um risco bem grande e isso acabou sendo comprovado. A maior parte das pessoas ia para as mesmas festas. Meu conselho é para que todo mundo se isole e mantenha a quarentena”, afirmou.
B.Z. também segue em isolamento e disse que não pretende mais se aglomerar.

Opinião de especialista

A médica infectologista e mestre em saúde pública, Luana Mariano, explica que é fundamental que as pessoas que testaram positivo ou que tiveram contato com alguém que teve diagnóstico, independentemente de sintomas, façam quarentena de 14 dias e procurem o atendimento de urgência para fazer o teste. 

Ela relembra também que a procura pelo atendimento é exclusiva para o diagnóstico e não para o tratamento precoce, já que ele não existe.

“É muito importante também lembrar da identificação da nova cepa britânica, 70% mais transmissível, e por isso a chance de se contaminar é muito maior. Neste momento, é mais importante que as pessoas tenham a consciência de se afastar e seguir a quarentena”, explica a médica.

Luana Mariano lembra que toda informação entre médico e paciente é sigilosa e divulgar resultados, por mais que seja uma forma de tentar se proteger, pode gerar constrangimentos.

“A epidemia mudou um pouco em relação ao local de contaminação. No começo, as pessoas se contaminavam na rua e iam para casa. Hoje, as pessoas acabam pegando o vírus dentro de casa. Porque grande parte das pessoas respeita o isolamento, mas se alguém dentro de casa não respeita, isso gera a transmissão. Então, esse comportamento de jovens, que acreditam que não vão levar o vírus para casa porque não vão ter grandes complicações, coloca em risco pais e avós e até mesmo eles, que podem sofrer problemas cardiovasculares e cerebrais no futuro”, explica.Continua depois da publicidade

Escarpas

De  28 de dezembro a 3 de janeiro, a cidade de Capitólio foi tomada por jovens e adolescentes. Durante conversa com os participantes das festas, a reportagem constatou que nada foi feito pela prefeitura para evitar aglomerações.

O jornal Estado de Minas procurou a prefeitura de Capitólio, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem.

Matéria: Jornal Estado de Minas

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