A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Covid, recebeu o depoimento do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, no dia 18.05.

No início da reunião, o presidente da CPI, Omar Aziz, rejeitou o pedido para troca do relator. Afirmou os convocados estarem pedindo habeas corpus para não responder a perguntas: “É bom algumas pessoas irem ao Supremo, porque até outro dia essas pessoas queriam tacar fogo no Supremo“.

O depoente negou ataques à China, fornecedor de insumos para a fabricação de vacinas e maior parceiro comercial do Brasil, quando disse: “Não vejo nenhuma declaração que eu tenha feito como anti chinesa. Em notas oficiais, nos queixamos do comportamento da Embaixada da China…“. Após isso, foi repreendido pelo presidente da CPI: “…dizer aqui, nesta CPI, para todos os senadores, que o senhor nunca se indispôs em relação à China… Aí vossa excelência está faltando com a verdade”.

Confirmou ter pedido a troca do embaixador da China no Brasil em março e novembro de 2020, após discussão, nas redes sociais, do deputado federal, Eduardo Bolsonaro, com o embaixador chinês.

Perguntado sobre o consórcio Covax Facility, da Organização Mundial de Saúde (OMS), o ex-chanceler atribuiu ao Ministério da Saúde a decisão de solicitar vacinas para 10% da população brasileira, ao invés dos 50% que o Brasil tem direito.

A fala mais forte na CPI contra o ex-ministro foi protagonizada pela senadora Kátia Abreu. Inicialmente, ela lembrou a reunião de 22.04.2020, quando ele fez ataques à China e o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou o conteúdo da reunião, exceto a sua fala. Afirmou ser o seu comportamento nocivo ao país e afirmou: “Eu quero bajular qualquer país que tenha vacina“. Disse ele ter colocado o país na condição de pária e de irrelevância, por ser um “negacionista compulsivo” e afirmou: “O senhor no MRE foi uma bússola que nos direcionou para o caos, que nos levou ao iceberg, ao naufrágio“.

O presidente da CPI condenou a não intervenção do Itamaraty para liberar o transporte aéreo do oxigênio doado pela Venezuela ao Amazonas, pois isso gerou demora na entrega por via terrestre e causou mortes. Ernesto admitiu que a iniciativa de doação de oxigênio partiu da Venezuela e não teve a intermediação do Itamaraty, nem mesmo para agradecer a ajuda.

No depoimento, de forma sucinta, o ex-chanceler afirmou ter intermediado telefonema do presidente da República para a Índia com o fim de importar hidroxicloroquina e insumos, confirmou não ter agradecido à Venezuela a doação de oxigênio para Amazonas e mentiu ao negar ter tido atritos com a China.

O depoimento demonstrou o Brasil não ter usado seu aparato diplomático para agilizar e garantir o fornecimento de insumos, imunizantes e vacinas e o ex-chanceler até afirmou: “Nunca recebi orientações para acelerar contatos com fornecedores de vacinas”.

Euler Antônio Vespúcio – advogado tributarista

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