Já disse que sou do tempo da máquina de escrever, da radiofoto, da telefoto, do telex, do fax e de outras coisas que se foram e não voltam mais. Nunca, porém, me quedei alheio às conquistas que o tempo propicia. Acompanhei a informatização do jornal de papel ainda no velho “Jornal do Brasil”. Não peguei, em seu afã diário, as redes sociais, que surgiram depois e hoje são como sarampo e caxumba de meus tempos de adolescência, com a possibilidade de se transformarem em moléstias tão ou mais graves.
No início, o tumulto era grande, mas logo as coisas foram se encaixando lentamente. Além da ansiedade com o advento das novas tecnologias, o medo de enfrentá-las tomou conta de muita gente. Quem imaginaria que um simples celular, que nos liga ao mundo todo, se transformaria anos depois num poderoso computador?
De minha parte, custei a encostar a máquina de escrever. Mesmo depois de já saber usar o teclado do computador, que, “mutatis mutandis”, era (quase) a mesma coisa, resisti algum tempo. Até a macieza do teclado, além de seu estranho silêncio, dificultava-me a escrita. Certa vez, já abolidas as barulhentas máquinas de escrever, também responsáveis pelo burburinho nas redações dos jornais, ao passar, no “JB” em Brasília, para uma visita rápida, pela sala do saudoso Carlos Castello Branco, nosso grande Castellinho, sem dúvida um dos melhores cronistas políticos de todos os tempos, admirado e com os olhos fixos no teclado do computador, ouvi dele o seguinte: “Venha aqui ver que coisa deslumbrante é esta máquina! Escrevo e reescrevo ao bel-prazer, sem a necessidade de emendas com a velha esferográfica!”
Toda evolução tecnológica tem seus efeitos colaterais. Recentemente, a doutora Filó, que, além de médica pediatra, é pregadora na Paróquia Nossa Senhora Rainha, sediada em Belo Horizonte, ao alertar sobre o uso exagerado das novas tecnologias para os alunos do Colégio Santo Antônio, disse o seguinte: “A tecnologia é algo maravilhoso, mas deve ser usada com limites. Os pais, neste contexto, devem ficar atentos a tudo que os filhos acessam e devem estabelecer limites na hora de navegar na internet. Quando as crianças são submetidas a conteúdos para os quais ainda não sejam maduras para ver, cicatrizes são criadas, podendo afetá-las na vida adulta. A tecnologia não filtra conteúdo, sendo este, portanto, um dever dos pais”.
São muitos os pais, educadores e médicos que se preocupam com o uso excessivo das redes sociais, transmitidas pela internet sem qualquer censura, como deve ser num país que se diz democrático. Recentemente, porém, o colunista do “The New York Times” Farhad Manjoo, em artigo publicado no jornal “O Globo” do último sábado, explicou como passou pela experiência de se informar, durante dois meses, exclusivamente, por jornais e revistas. Sua abstinência digital, por livre e espontânea vontade, lhe deu mais tempo livre e lhe fez pensar e questionar sua condição de consumidor de conteúdo online.
Farhad substituiu o Twitter e outras redes sociais por jornais impressos e uma revista semanal: “Depois de ler jornais por algumas semanas, comecei a reparar que não eram os jornais que eram muito bons, mas as redes sociais que eram muito ruins. Você não precisa ler jornal impresso para aprimorar sua relação com o noticiário. Mas, por favor, pare de se informar prioritariamente pelo Twitter ou Facebook”.
Valeu a pena ouvir a doutora Filó e ler o artigo de Farhad.

 

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