Chegamos aos nove meses sem aulas presenciais em grande parte do país e, segundo estados e municípios à frente das decisões, a medida visa conter a propagação do novo coronavírus.

Claudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem/SP), diz que os profissionais da área são os maiores defensores da educação básica presencial, mas acrescenta que “não há prejuízo maior do que perder a vida.” Enquanto isso, o secretário de educação do município de São Paulo, Bruno Caetano, afirmou em coletiva de imprensa, em novembro, que não vai avançar no plano de reabertura das escolas.

Estariam essas medidas de acordo com o que a classe médica tem aconselhado? Segundo um manifesto assinado por mais de mil médicos de diversas especialidades, incluindo infectologistas e pediatras, não. A petição A ciência pela reabertura das escolas é promovida por um grupo de pediatras independentes, sem vínculo com qualquer instituição médica ou de ensino, e fundamenta sua posição com os seguintes dados:

• As crianças se infectam menos do que os adultos, 2 a 5 vezes menos. O risco de se infectar é menor quanto mais jovem a criança;

• São muito raras as complicações nessa faixa etária, representando apenas 0,6% dos óbitos (sendo as crianças 25% da população nacional);

• Para as crianças, a exposição à Covid-19 as coloca em risco muito menor do que a exposição ao vírus Influenza. E as escolas não fecham nos surtos de gripe;

• Apesar do que se supôs no início da pandemia, as crianças não são “super-spreaders” (disseminadores) da Covid-19;

• A grande maioria das crianças é assintomática ou apresenta sintomas leves, principalmente os mais novos. E, desta forma, transmitem menos;

• As escolas, seguindo os cuidados indicados, não são locais de maior infecção. A experiência europeia provou enfaticamente isso;

• Com as medidas de prevenção, a escola é segura para os professores e funcionários.

• No Brasil e no mundo, as crianças se infectaram mais em casa por meio dos próprios familiares expostos do que na escola;

• Os impactos do isolamento social prolongado no desenvolvimento infantil e saúde mental são imensos e duradouros. Obesidade, transtornos de ansiedade, transtornos do sono, danos pela exposição excessiva a telas são alguns dos muitos prejuízos.

A petição termina com a frase: “Sejamos justos com a infância e comprometidos com o futuro de todos.” Além deste documento, há outro manifesto intitulado Lugar de Criança é na Escola, que conta com mais de 10 mil assinaturas e corrobora que a falta de ensino presencial acarreta riscos de curto, médio e longo prazo no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Entre várias informações, dados e fatos, o documento declara que “países que seguem uma cultura de gestão por evidência científica foram atualizando suas condutas e tendendo a reabrir”, diferentemente do que se vê em grande parte do Brasil.

Sendo assim, com base em que tipo de “ciência” estados e municípios preferem manter as escolas fechadas? Por que essa insistência em justificar que a medida visa “salvar vidas” quando a própria classe médica indica que o fechamento é mais prejudicial que o próprio vírus? A quem interessa que a qualidade do ensino brasileiro decaia ainda mais e que as crianças – que não fazem parte dos grupos de risco – tenham de arcar com todo esse ônus?

É revoltante estarmos vivendo em uma sociedade que tem a capacidade de promover uma fala que acusa crianças de serem as possíveis culpadas pela morte dos próprios avós. Mesmo para mim que não tenho filhos, é simplesmente revoltante.

Para ler a íntegra da petição “A ciência pela reabertura das escolas”, acesse o link aqui.

Matéria de Patricia Lages do R7

COMPATILHAR: