As chuvas dos últimos dois meses melhoraram a situação dos reservatórios das hidrelétricas do país, mas não foram suficientes para impedir que eles chegassem ao fim do período chuvoso com o nível mais baixo desde 2001, ano em que o governo brasileiro decretou o racionamento de energia.
De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as represas de hidrelétricas do sistema Sudeste/Centro-Oeste, responsáveis por 70% da energia que abastece o Brasil, chegaram ao final de abril (dia 30) com 62,4% de armazenamento de água.
Apesar de ser o nível mais baixo dos últimos 12 anos, ele é quase o dobro do registrado em abril de 2001, pouco antes do início do racionamento, quando os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste tinham apenas 32,18% da água que eram capazes de armazenar.
Entretanto, o nível do final de abril de 2013 é 18% mais baixo que o verificado na mesma época do ano passado (76,09%). Desde 2003, os reservatórios daquele sistema não chegavam ao início do período seco, quando as chuvas diminuem na maior parte do país, com volume de água abaixo de 70%.
O sistema Nordeste, segundo mais importante do país, chegou ao dia 30 de abril em situação mais complicada: o nível médio das represas era de 48,8%, bem mais próximo ao registrado na região em 2001 (33,13%).
Nós últimos meses, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, veio a público negar o risco de novo racionamento ou falta de energia no país em 2013 ou em 2014, ano em que o Brasil sedia a Copa. No mês passado, o ministro convocou entrevista para rebater reportagens e criticou o ?tom alarmista? adotado pela imprensa na cobertura desse assunto.
Termelétricas
Por conta do baixo nível dos reservatórios, desde outubro de 2012 o Brasil mantém todas as usinas termelétricas disponíveis funcionando. No dia 30 de abril, elas eram responsáveis por gerar 11.347 MW médios, 18,31% de toda a energia produzida no país.
O governo aguardava a situação dos reservatórios ao fim do período chuvoso para definir se as térmicas permanecem ligadas pelo restante do ano ou não. Isso deve ser decidido na próxima reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), na semana que vem.
O problema de manter as termelétricas ligadas por mais tempo é que o preço da energia sobe. Essas usinas usam combustível, como carvão, gás e óleo, e o custo acaba sendo pago pelos consumidores. Neste ano, essa conta já supera os R$ 2 bilhões.
No início de 2013, o governo adotou medidas para reduzir o impacto do uso das térmicas na conta de luz. Uma delas foi socorrer as distribuidoras de energia, que assumem o custo adicional das termelétricas no primeiro momento. Para isso, usou recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um fundo que financia programas do setor.
Além disso, resolveu parcelar, em 5 anos, o repasse dessa conta aos consumidores. E alterou o rateio dessas despesas: reduziu a parcela que recai sobre consumidores residenciais e empresas, e incluiu no custeio os comercializadores e geradores de energia.
Curva de Aversão a Risco
Independente da decisão que será tomada pelo CMSE na próxima semana, o setor elétrico vai ficar atento ao nível dos reservatórios nos próximos meses. E, mesmo que o governo opte por desligar pelo menos parte das termelétricas, pode ser que elas venham a ser acionadas novamente em novembro.
No final de abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a chamada Curva de Aversão a Risco (CAR) de 2013. Trata-se de um mecanismo que estabelece o nível mínimo dos reservatórios do país para cada mês do ano. De acordo com ele, as represas precisam chegar com 27% de armazenamento ao final de outubro, quando termina o período seco e começa o chuvoso, para que não haja risco de faltar energia no país.
Caso o índice fique abaixo disso, todas as termelétricas disponíveis são obrigatoriamente ligadas para poupar água dos reservatórios e garantir o abastecimento de energia no país no próximo período seco.

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