Pesquisadores da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, identificaram que o leite das focas-cinzentas (Halichoerus grypus) possui maior complexidade e potência em comparação ao leite materno humano. O alimento contém cerca de 33% mais moléculas de açúcar, algumas inéditas na ciência, e pode contribuir futuramente para o aprimoramento de fórmulas infantis. Os resultados foram publicados na terça-feira (25) na revista Nature Communications.

Os filhotes de foca-cinzenta mamam por apenas 17 dias após o nascimento, período no qual recebem todos os nutrientes necessários para ativar o sistema digestivo e fortalecer a imunidade contra vírus e bactérias do ambiente onde vivem. Embora já se soubesse da robustez do leite desses animais, os cientistas decidiram examinar em profundidade sua composição.

Para isso, coletaram amostras de leite de cinco focas em lactação na costa da Escócia. Em seguida, utilizaram espectrometria de massa para analisar a estrutura de 240 das 332 moléculas de açúcar identificadas. Modelos de inteligência artificial revelaram que a composição do leite muda ao longo da lactação, comportamento semelhante ao observado no leite humano.

O coautor do estudo, Daniel Bojar, explicou que os açúcares presentes no leite se conectam a diversas proteínas do sistema imunológico. Em testes com células humanas, as moléculas recém-descobertas demonstraram capacidade de regular respostas celulares diante de diferentes ameaças.
“As descobertas sugerem que os mamíferos marinhos selvagens, que estão expostos a estresses ambientais extremos e alta exposição a perigos externos, desenvolveram um leite complexo para proteger seus filhotes em rápido crescimento”, afirma Bojar.

Ao todo, foram identificadas 332 moléculas de açúcar, enquanto o leite humano possui cerca de 250. Dois terços dessas moléculas nunca haviam sido descritos, incluindo estruturas de até 28 unidades de açúcar — superiores às 18 unidades observadas nas maiores moléculas humanas. Conhecidos como oligossacarídeos, esses açúcares desempenham papel essencial na saúde e no desenvolvimento dos mamíferos, e no caso das focas, mostram-se ainda mais potentes por precisarem proteger os filhotes de riscos inexistentes para humanos.

A expectativa dos pesquisadores é que essas moléculas inéditas sejam estudadas em profundidade e, caso se mostrem seguras, possam integrar fórmulas infantis mais eficientes e, futuramente, contribuir para soluções destinadas a melhorar o sistema gastrointestinal de adultos.

Com informações do Metrópoles

 

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