No dia 30.03 os comandantes das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) renunciaram aos cargos, por discordarem do presidente da República ter demitido inesperadamente o Ministro da Defesa, Fernando Azevedo.

Esses acontecimentos geraram uma crise militar, a maior desde a demissão do ministro do Exército, Sylvio Frota, em 1977.

O governo até tentou ganhar protagonismo nos acontecimentos e anunciou a dispensa dos comandantes, mas a opinião pública já sabia da intenção dos comandantes de pedirem demissão.

O presidente há muito tempo está descontente com o Ministro da Defesa, pelo fato dos militares não se manifestarem a favor do governo, não condenarem as medidas de isolamento definidas pelos governadores ou não reprovarem o Supremo Tribunal Federal (STF) restaurar os direitos políticos do ex-presidente Lula.

O presidente até falou publicamente que “meu Exército” não permitiria medidas de toque de recolher nos Estados. A fala dá a impressão de o Exército ser uma instituição de governo e estar sujeita aos destemperos ocasionais dos políticos, mas ele é uma instituição de Estado para defender as instituições democráticas, nos limites constitucionais e legais.

O desencontro com as forças armadas exemplifica outros já ocorridos, como o da Polícia Federal, quando Bolsonaro demonstra ter a intenção de controlar as instituições governamentais para atender a seu anseio governamental imediato, seja para proteger seus filhos e amigos, seja para viabilizar sua reeleição em 2022.

Por sua vez, Bolsonaro sonha em ter em todas as instituições pessoas com a índole do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, dotado de servilismo para seguir fielmente quaisquer ordens recebidas, e, dessa forma, nomeou outro nome para Ministro da Defesa para ter uma força armada como se “sua” fosse.

Os militares tinham a intenção de retornar ao governo para melhorar a imagem das forças armadas, manchada pelos excessos cometidos na ditadura militar de 1964 a 1985. Retornaram em um momento de dificuldades, em meio à gestão de um presidente errático e agravada por uma crise sanitária a ceifar vidas de brasileiros.

Desde 2019 ouvimos os representantes militares afirmarem não existir possibilidade de um golpe militar, dizem ser respeitadores da democracia e da Constituição, mas é bom lembrar o Golpe de 1964 ter sido realizado com ofensa à democracia e à Constituição da época.

Diante do receio de golpe é animador relembrar excerto do discurso, do dia 02.02.1987, de Ulysses Guimarães, um dos maiores líderes da oposição ao regime militar, em sua posse como presidente da Assembleia Nacional Constituinte, quando disse: “Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério…Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”.

Euler Antônio Vespúcio – advogado tributarista

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