A população brasileira já tem data marcada para deixar de crescer. Em 2030, o país terá 204,3 milhões de habitantes, 14 milhões a mais do que hoje. Quando chegar a esse patamar, o Brasil vai conhecer, pela primeira vez na sua história, uma redução demográfica, acompanhando a tendência da Europa Ocidental, Rússia e Japão. A previsão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que estima, para 2035, um real ?encolhimento? populacional. Portanto, dentro de 27 anos haverá 200,1 milhões de pessoas no território nacional.
Além disso, os brasileiros serão velhos. O estudo do Ipea, feito com base nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2007), aponta uma inversão no número de jovens e idosos. Se hoje as pessoas com menos de 15 anos representam um quarto da população, em 2035 serão 14%. Situação oposta será vivida por aqueles com mais de 60 anos, que atualmente são 10% dos habitantes e, em 27 anos, vão atingir mais que o dobro (21,1%). A pesquisa acende o sinal de alerta para a necessidade de investimentos em políticas públicas voltadas para a previdência social e os serviços de saúde para o futuro Brasil de cabelos brancos.
A estimativa de estabilização demográfica e de envelhecimento progressivo da população é resultado, segundo o Ipea, da queda acelerada das taxas de natalidade e mortalidade. ?Em 2007, o índice de fecundidade no país foi de 1,83 filho por mulher, nível abaixo da reposição. Isso implica na diminuição do ritmo de crescimento e provoca mudança na estrutura etária?, diz a coordenadora da área de população e cidadania do instituto, Ana Amélia Camarano.
Tudo indica que o brasileiro vai subverter, cada vez mais, a ordem cristã de ?crescei e multiplicai-vos?. Retrato dessa nova realidade é a família Bretas. A matriarca Maria Silva Bretas, de 85 anos, criou seis filhos. Uma delas, Solange, de 57, que mora com a mãe, teve apenas dois. E os filhos de Solange, uma mulher e um homem com 26 e 22 anos, respectivamente, não têm, por enquanto, planos de dar continuidade à estirpe. ?É a correria, a necessidade de estudar. Ninguém tem tempo?, aposta Solange. Diferentemente dos velhos tempos, os jovens da família querem se estabilizar primeiro antes de pensar em procriação.
Na casa da aposentada Irlanda Silva Gino, de 70, a história é parecida. A mãe teve 13 filhos e ela só se animou a ter quatro e, apesar da filha mais nova já estar com 36 anos, até agora só há três netos. ?O que era normal antes, virou um sacrifício. Para mim, está tudo ligado à abertura do mercado de trabalho para a mulher.? Bem casada, como mandava a tradição, Irlanda não teve dúvida quando resolveu ter filhos: sua profissão até então, o magistério, seria deixada de lado. ?Preferi cuidar dos garotos, porque achei mais importante naquele momento.? Só quando a mais nova estava com 16 anos, ela voltou a estudar e concluiu o curso de pedagogia.
Mercado
A pesquisa indica ainda que os únicos grupos populacionais a apresentar crescimento, a partir de 2030, serão os de idade superior a 45 anos. Segundo o Ipea, essa tendência vai forçar mudanças drásticas no mercado de trabalho, pois os novos empregos a serem gerados vão se concentrar nesse grupo de pessoas. A previsão para a década de 2030 é de que os trabalhadores com mais de 45 anos representem 47% da população. ?O governo terá que pensar em políticas de saúde ocupacionais para a manter as pessoas em vida ativa por mais tempo. Também será preciso acabar com o preconceito contra os mais velhos no mercado de trabalho e com a aposentadoria compulsória aos 70 anos?, acrescenta Ana Amélia.
O futuro é de jovens como Antônio Augusto de Miranda Júnior, de 24, morador de Belo Horizonte. Daqui a 22 anos, ele terá 46 e será incluído no grupo mais numeroso do país. A palavra que guia os sonhos do rapaz é trabalho. Técnico em automação, ele trabalha durante todo o dia para pagar a faculdade de ciência da computação. ?A gente estuda sabendo que talvez não seja suficiente, porque há muita concorrência.? Perguntado sobre como se imagina com 45 anos, ele diz esperar já ter um filho e um emprego estável com salário que o permita fazer boas viagens. ?Casamento não sei, porque, por enquanto, gosto de ser solteiro.? Miranda Júnior revela um pavor que, até pouco tempo, passava longe de preocupações de jovens da sua idade: ?Sou otimista, mas meu medo é morar e criar filho em um país que pode estar sem água e com poluição e carros demais?.

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