Suspeito de matar

O promotor André Luis Garcia de Pinho alegou que a esposa de 41 anos engasgou e faleceu, mas parentes acreditam em crime; ele teve prisão temporária decretada

O promotor André Luis Garcia de Pinho, 51, apontado como suspeito de ter matado a mulher dele, Lorenza Maria Silva Pinho, 41, na madrugada de sexta-feira (2), foi preso nesse domingo (4) no apartamento da família, no bairro Buritis, região Oeste de Belo Horizonte. Os cinco filhos do casal, todos menores de idade, também estavam na residência quando os policiais chegaram ao endereço acompanhados por dez atiradores de elite da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

Por volta das 9h30, dez viaturas da Polícia Civil chegaram à rua Engenheiro Alberto Pontes, onde vive o promotor. O quarteirão foi bloqueado pelos policiais, com um carro em cada extremo da rua. Apesar de o promotor André Luis Garcia de Pinho afirmar que a mulher dele, Lorenza Maria Silva Pinho, tenha morrido após um engasgo, exames realizados pelo Instituto Médico Legal (IML) apontaram indícios de violência física, como contusão na cabeça e machucados por várias partes do corpo, segundo fontes ouvidas sob promessa de sigilo pela reportagem de O Tempo.

Os cinco filhos do casal, de 2, 7, 10, 15 e 17 anos estavam na casa quando a Polícia Civil prendeu o pai deles. Eles estavam tranquilos durante a perícia policial e André não chegou a ser algemado. A Polícia Civil não informou quais procedimentos realizou na residência. Os policiais passaram pelo menos quatro horas no apartamento e levaram um computador e diversos papéis. Da janela de um prédio em frente, uma vizinha registrou a movimentação em que a polícia parecia revirar até colchões.

Pai de Lorenza desconfia

Após a prisão do promotor, o pai de Lorenza, Marco Aurélio Silva, 72, foi chamado para ficar com os netos. Muito abalado, ele contou como recebeu a notícia da morte da filha, na madrugada de sexta-feira, por meio do WhatsApp da neta, de 15 anos.

“Ela me mandou mensagem por volta das 9h, avisando que a mãe falecera. Mas eu achei estranho, não parecia ter sido escrito por uma adolescente que acabara de perder a mãe. Penso que o pai dela pode ter pegado o celular e mandado”, relatou. Só por volta das 11h30, o promotor teria entrado em contato com a família.

Quando foi avisado sobre o falecimento da filha, Silva estava em Uberaba, no Triângulo Mineiro, onde mora. “Por várias vezes, eu recebi mensagens falando que ela estava internada, morta. Uma vez, mandaram até informações do funeral, depois falaram que o celular dela teria sido clonado. Mas quem clona celular, normalmente pede dinheiro. Por essas coisas, eu nem consegui acreditar assim que recebi a notícia”, relatou. Uma amiga contou que também recebeu essa mensagem, em janeiro.

“Quando eu falei com o André, perguntei se ia fazer autópsia, mas ele disse que não tinha necessidade, pois já estava com o atestado de óbito em mãos, preparando a cremação que, segundo ele, seria um desejo dela. Muito estranho. A minha mulher, que tinha falado com ele, o achou tranquilo demais para quem perdeu a esposa. O André sempre fez de tudo para manter a Lorenza isolada da família toda. Ele também fazia de tudo para evitar que eu tivesse proximidade com meus netos”, contou Silva.

O que diz a defesa

O promotor André Luis Garcia de Pinho teve prisão temporária decretada, que pode durar até 30 dias, e será investigado pela Promotoria Geral de Justiça do Ministério Público de Minas pelo suposto crime de feminicídio.

Por ser promotor, Pinho tem a prerrogativa de ficar preso numa sala de Estado-Maior, neste caso, localizada dentro do Batalhão do Corpo de Bombeiros da Pampulha. “Ele está muito abalado com a morte da esposa e nega veementemente que tenha praticado qualquer ato de violência”, alegou Sérgio Leonardo, advogado do promotor, após deixar a Procuradoria Geral de Justiça domingo à tarde.

De acordo com vizinhos, o casal morava no prédio no Buritis há menos de um ano e era bem reservado. Já em outro prédio onde vivia a família antes, no bairro Carmo, na região Centro-Sul de BH, um funcionário, que não quis se identificar disse que André parecia ser carinhoso com Lorenza e as crianças.

O que se sabe

O que se sabe até o momento?

Lorenza Maria Silva de Pinho, de 41 anos, morreu na madrugada do dia 2 de abril, no apartamento em que ela morava com o marido, o promotor de Justiça André Luis Garcia de Pinho, e os cinco filhos do casal, no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte

Hipótese

André de Pinho alegou em depoimento que Lorenza teria se engasgado. Ele disse que chamou uma ambulância do Hospital Mater Dei e, quando eles chegaram, ela já estaria morta. O primeiro laudo médico do óbito, antes de as investigações começarem, dizia que Lorenza morreu por autointoxicação, disse o advogado do promotor. Segundo a defesa, André disse que a mulher tinha quadro depressivo e que às vezes misturava remédios com bebidas alcoólicas.

Investigação

Promotor André Luis de Pinho foi preso suspeito de assassinato da mulher; médico particular atesta morte por engasgamento, mas perícia indica violência. O corpo de Lorenza chegou a ser levado para funerária. O velório chegou a ser agendado para o sábado (3), mas a polícia determinou que fosse encaminhado para o IML para apurar a causa da morte. Pessoas que tiveram acesso ao lado do IML afirmaram que o documento aponta para indícios de violência física.

Prisão temporária

André de Pinho foi preso no domingo (4) por suspeita de envolvimento na morte de Lorenza. Ele nega qualquer tipo de violência contra a mulher

A família Pinho

Lorenza e André de Pinho estavam juntos há aproximadamente 20 anos. O casal teve cinco filhos: de 2, 7, 10, 15 e 17 anos

Ameaças e ataques

A família Pinho vivia sob constantes ameaças de morte, especialmente Lorenza. Ela e André chegaram a fazer boletins de ocorrências sobre os casos.

2012: O carro em que Lorenza e André de Pinho estavam foi alvo de tiros no bairro Sagrada Família, em BH. Ninguém ficou ferido. Na época, a polícia informou que o irmão do promotor era o suspeito do crime – o homem era acusado de tentar extorquir dinheiro do promotor e ameaçar Lorenza, que tinha uma medida protetiva contra o cunhado.

2013: O carro de André foi incendiado no bairro Serra, na capital. O veículo estava estacionado e não havia ninguém a bordo. 

2014: O prédio em que a família morava nos últimos anos, no bairro Buritis, foi atacado por um homem que disparou tiros de pistola contra a fachada.

2016: André e Lorenza foram agredidos por dois homens perto de uma igreja evangélica em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Caso Carone

  • Em 2014, André de Pinho participou da operação que prendeu o jornalista Marco Aurélio Flores Carone, dono do extinto portal de notícias Novo Jornal. Na época, Pinho acusou Carone de usar o site para fazer matérias caluniosas contra autoridades e pessoas públicas, entre eles o então senador Aécio Neves.
  • Carone ficou preso por nove meses, sendo três meses em uma solitária. Ele chegou a ser hospitalizado na época e disse que, durante a prisão, não teve acesso aos medicamentos para pressão e diabetes que usava. O jornalista também alegou que foi censurado porque pretendia divulgar denúncias contra o político mineiro. Em 2016, a Justiça rejeitou a denúncia feita pelo promotor e mandou arquivar o processo.

IML vai esclarecer morte

Promotor acionou ambulância do Mater Dei e médico particular em vez de chamar Samu; Defesa alega que vítima teria se asfixiado, mas fontes da polícia indicam indícios de agressão

Um dos pontos cruciais da investigação policial será descobrir a causa da morte da esposa do promotor André de Pinho, Lorenza Maria Silva Pinho, 41. A defesa do promotor alega que o primeiro laudo médico do óbito, realizado antes de as investigações começarem, aponta que a morte teria ocorrido por autointoxicação causada por expulsão de alimento e outras drogas. Mas o laudo conclusivo feito pelo Instituto Médico Legal (IML) que apontará a causa morte só deve ser finalizado e divulgado em um prazo de dez dias. Segundo informações do portal O Tempo, fontes revelam que o laudo já aponta indícios de violência física. 

Segundo o advogado do promotor, o criminalista Sérgio Leonardo, Lorenza tinha quadros depressivos desde o falecimento da mãe — em 2011 e, de acordo com Pinho, às vezes misturava remédios com bebidas alcoólicas.

“Na manhã do dia 2 de abril, André acordou ouvindo barulhos ao lado da cama, parecia que (Lorenza) estava passando mal, ele achou que era caso de pedir socorro, chamou uma ambulância do (hospital) Mater Dei, que foi lá, mas, ao que tudo indica, ela já havia falecido”, continuou Leonardo.

O advogado alegou que o promotor chamou a ambulância do Mater Dei, e não o Samu, porque os médicos do hospital já atendiam Lorenza com rotina.

Em depoimento à polícia, conforme boletim de ocorrência sobre o caso, Pinho alegou que Lorenza demandava atendimento médico e que, por causa disso, ligou para um médico, por meio da ambulância da rede hospitalar Mater Dei de Saúde. Pinho contou que a mulher foi assistida, em casa, pelo médico Itamar Tadeu Gonçalo Cardoso. Ao chegar ao imóvel, ele teria tentado reanimá-la, sem sucesso.

Diante da morte de Lorenza, o médico, segundo informações repassadas pelo promotor, teria feito a declaração de óbito com a causa da morte da mulher. No documento, ao qual a reportagem não teve acesso, constaria que ela faleceu, por volta das 7h da sexta (2), e que a causa primária ou básica da morte seria uma pneumonite devido a alimento ou vômito. Já a causa secundária do óbito de Lorenza, de acordo com a declaração, estaria ligada a autointoxicação por expulsão e outras drogas. 

Silêncio

Segundo informações do portal O Tempo, a reportagem esteve, na tarde de domingo (4), na casa do médico Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso, que mora no bairro Castelo, na região da Pampulha. Mas o profissional não quis conversar com a reportagem. A advogada dele, Ana Carolina Santos Leal, informou que o cliente “só vai falar em juízo, ou com a presença da autoridade policial”. Na página dele no Facebook, ele confirma trabalhar no Mater Dei.

Mater Dei

A Rede Mater Dei não confirmou se enviou uma ambulância para atender Lorenza de Pinho na sexta-feira. O diretor-presidente da rede Mater Dei de Saúde, Henrique Salvador, afirmou que não tinha conhecimento sobre o caso. 

Velório de Lorenza chegou a ser marcado

O velório da esposa do promotor André de Pinho chegou a ser marcado para acontecer no sábado. No entanto, diante de suspeitas de feminicídio que já cercavam o caso, a Polícia Civil requisitou o corpo de Lorenza Maria Silva de Pinho, que nem chegou a ser velado e foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) da capital. 

Segundo uma fonte ouvida pelo portal O Tempo, que pediu anonimato, uma sala foi reservada no Funeral House pelo promotor André Luis Garcia de Pinho. “O André me disse que ela seria cremada. Disse que esse era um desejo dela. Mas a história está confusa”, afirmou o pai de Lorenza, Marco Aurélio Silva, 72.

O advogado do promotor André, o criminalista Sérgio Leonardo, também confirmou que a mulher seria velada e cremada porque teria um contrato de cremação fechado com a funerária há quatro anos. 

A defesa afirmou ainda que o corpo de Lorenza foi direcionado à funerária, e não IML, inicialmente, porque o laudo inicial do médico teria indicado que a morte não havia sido violenta. 

Promotor não autorizou perícia no quarto 

O promotor André Luis Garcia de Pinho não autorizou, por livre e espontânea vontade, que os investigadores da Polícia Civil de Minas Gerais, responsáveis pelo caso, fizessem o exame pericial no quarto em que a vítima estava, no apartamento em que eles moravam com os cinco filhos.

A informação está detalhada no boletim de ocorrência com os desdobramentos sobre a morte de Lorenza de Pinho, ocorrida na última sexta-feira. 

Conforme o boletim de ocorrência, ao ser indagado pela delegada-geral Letícia Baptista Gamboge Reis, uma das responsáveis pela investigação do caso, se o promotor autorizava, por livre espontânea vontade, a realização de exame pericial no apartamento, mais precisamente no quarto onde ocorreu o fato, Pinho não teria autorizado o procedimento.

A defesa do promotor disse que o quarto já estava arrumado e que, portanto, estava “descaracterizado”. Segundo o advogado, a filha do casal teria pedido que o quarto não fosse periciado. 

Família vive sob ameaça de morte

Nos últimos anos a família do promotor André de Pinho esteve no centro de mais de 30 ocorrências policiais. Levantamento feito, com base em uma série de boletins lavrados pelo próprio casal desde 2010, mostra que, nos últimos anos, a família deles sofria constantes ameaças de morte, sendo Lorenza Maria Silva Pinto o principal alvo, na maioria dos casos. 

Em declarações feitas pela mulher e pelo promotor à polícia, eles afirmaram, inclusive, que a família já esteve sob escolta armada e que Lorenza possuía uma medida cautelar protetiva, concedida pela 2ª Vara Criminal de Justiça, devido às várias ameaças que ela sofreu. Os ataques teriam vindo de ex-funcionários do casal, pessoas desconhecidas e até mesmo familiares do promotor. 

Segundo relatos feitos pelo casal aos policiais na época, algumas ameaças eram feitas por meio de ligações telefônicas e outras através de bilhetes e de correspondências enviadas ao casal. Em um dos episódios, chegaram a enviar bombons envenenados para a casa deles.

O casal recebia ameaças como “a morte de Lorenza já está paga e a polícia nunca conseguirá descobrir quem é, porque nunca prendeu ninguém que usa silenciador”, “além de engolir sapo, você irá perder seus filhos, para aprender a sacanear com empregados”, “vocês vão pagar pelo que fizeram”, “muito em breve, vão sentir o gostinho de ficarem presos no Ceresp”. 

Em 2012, por exemplo, o promotor foi vítima de um atentado no bairro Sagrada Família, na região Leste de Belo Horizonte. O carro em que ele e Lorenza estavam foi alvo de tiros, disparados por dois homens em uma motocicleta. Ninguém ficou ferido, mas, na época, a polícia informou que um irmão do promotor seria um dos suspeitos. 

No mesmo ano, em outra ocorrência, ela o marido disseram ter recebido uma correspondência com bombons, enviadas supostamente por um amigo. Contudo, depois de Lorenza comer alguns doces, ela passou mal e eles desconfiaram do “presente”. Segundo o casal, a médica disse que Lorenza teria consumido veneno para rato.

Além disso, o carro de André de Pinho chegou a ser incendiado no bairro Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, em 2013. O veículo estava estacionado e não havia ninguém a bordo. Na ação, nada foi levado e os vidros do carro foram quebrados. 

Em 2014, o prédio em que a família morava no bairro Buritis também foi atacado por um homem que disparou tiros de pistola contra a fachada. Na época, Lorenza chegou a relatar que não podia nem sair na rua por conta das constantes ameaças. 

Outro caso ocorreu em 2016, quando Pinho e a mulher relataram à polícia que foram agredidos fisicamente por dois homens perto de uma igreja evangélica no Vale do Sereno, em Nova Lima, região metropolitana. Na época, o promotor disse se recordar que um dos agressores o ameaçou, dizendo: “agora, recorre para você ver”. 

Filhos ficarão sob cuidados de avô materno 

A mãe, Lorenza Maria Silva Pinho, 41, morreu na manhã da Sexta-feira da Paixão. O pai, o promotor André Luis Garcia de Pinho, está preso, suspeito de matar a esposa. Os cinco filhos do casal, de 2, 7, 10, 15 e 17 anos, estão sob a guarda do avô materno, Marco Aurélio Silva, 72.

 “O que importa agora, neste momento, é cuidar das crianças”, afirmou o avô, que veio de Uberaba, no Triângulo Mineiro, para dar assistência aos netos e acompanhar as investigações. Nesta segunda (5), ele prestará depoimento ao Ministério Público, junto com a outra filha, irmã gêmea de Lorenza.

Abalada, a família ainda tem muitas dúvidas. Segundo o advogado de André, Sérgio Leonardo, o cliente teria chamado a ambulância entre 6h e 6h30, e a morte foi declarada às 7h17, havendo tentativa de ressuscitação por 40 minutos. Já ao pai de Lorenza, versão dada pelo genro foi diferente. “Quando eu consegui falar com o André, por volta das 11h da sexta-feira, ele me disse que ligou para uma ambulância do Mater Dei e, casualmente, o médico era amigo dele. Mas ele me disse que quando a ambulância chegou, ela já estaria morta”, afirmou.

Em respeito ao momento delicado que as crianças estão vivendo, Marco Aurélio diz que ainda não tem condições de dar detalhes, mas confirmou que todas as cinco estavam no apartamento quando a mãe morreu.

Fonte: O Tempo

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