Só para recapitular: você vive em um país no qual o presidente tem duas denúncias de corrupção suspensas na Justiça, à espera do fim do mandato. Suspensão conseguida ao custo de bilhões de reais em emendas parlamentares e algumas dezenas de cargos bancados com dinheiro igualmente público. Esse presidente disse em uma reunião, que entrou pela madrugada, no porão de um dos luxuosos palácios à sua disposição, que era para o empresário “manter” a boa relação (os pagamentos) que garantia que dois presidiários, um ex-presidente da Câmara e um famoso doleiro, ficassem calados com relação aos atos de corrupção de seu grupo. Seu líder do governo, antes seu ministro, é um parlamentar que afirmou que era preciso “estancar a sangria” (da Lava Jato).
Sob seu governo, o primeiro colocado da lista tríplice do Ministério Público Federal (MPF) não foi escolhido, e o diretor da Polícia Federal foi trocado. O novo disse que “malas de dinheiro” não são provas contra o presidente.
Há aliados presos por terem perdido o foro ou por terem tido suas malas cheias de milhões de reais encontradas pela polícia. Há aliados soltos apenas por serem ministros. Agora a escolhida para assumir o Ministério do Trabalho tem uma condenação por descumprir justamente a legislação trabalhista. É filha de um condenado por corrupção e ex-presidiário e tem como suplente outro ex-detento, este já sentenciado em primeira instância por exploração sexual de menores.
O tal presidente assumiu após o impeachment da antecessora, acusada de obstrução da Justiça na Lava Jato e de crime de responsabilidade por falsear as contas públicas para ganhar mais quatro anos de poder. Aquela presidente venceu uma disputa apertada contra um oposicionista que, de lá para cá, foi delatado mais de uma dezena de vezes, virou réu e chegou a ficar em recolhimento noturno, após ter sido gravado pedindo R$ 2 milhões a um empresário e dizendo que o escolhido para receber o dinheiro tinha que ser “um que a gente mata antes de fazer delação”.
Em seu país, os presidentes da Câmara e do Senado foram delatados por corruptos que já estão soltos, como quase todos os empresários presos na maior operação de combate à malversação de dinheiro público da história. Alguns, soltos mesmo não tendo conseguido provar a veracidade de suas acusações, tal qual aconteceu com um senador que chegou a ser detido em fragrante após dar o caminho das pedras e prometer ajudar na fuga de outro investigado. Tais delatores devolveram R$ 1,47 bilhão em recursos a uma empresa de controle público que precisará pagar quase R$ 10 bilhões em indenizações a estrangeiros justamente por conta dos crimes que praticaram.
Você vive em um país no qual o líder das pesquisas já foi condenado, em primeira instância, a nove anos e meio de prisão por corrupção, é réu ou investigado em mais meia dúzia de casos e não sabe se estará solto no dia de ir às urnas. Em seu país, o segundo colocado na disputa faz juras de amor à ditadura militar, homenageia um homem que torturou e matou mães na frente de seus filhos e faz apologia de crimes em microfones instalados no Congresso Nacional.
Diante de tal quadro, bem resumido, você deve estar se perguntando quem poderá ajudá-lo a sair dessa. Eu lhe respondo: é com você, nas próximas eleições, daqui a dez meses. É bom fazer sua parte porque, depois, não adianta reclamar.

 

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