O reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG), professor Caio Mário Bueno Silva, esteve em Formiga na tarde desta segunda-feira (4) para falar sobre a situação da construção da unidade no bairro Vargem Grande. Por volta das 13h, o reitor concedeu uma coletiva de imprensa no atual campus, no bairro São Luiz, em seguida, foi até a Câmara Municipal explanar sobre o problema para os vereadores e participantes da reunião.
As explicações vieram depois que os alunos chamaram a imprensa, na quarta-feira da semana passada (30), para registrarem uma manifestação na sede do IFMG, quando protestaram por diversos motivos, como melhor estrutura física, auxílio alimentação, auxílio xerox, horário da biblioteca mais acessível e, principalmente, o uso do microônibus que está parado no estacionamento desde o final de 2010, sem placa e exposto ao sol e chuva constantemente.
Apenas a equipe do jornal Nova Imprensa e do portal Últimas Notícias esteve presente na manifestação e registrou a conversa do diretor do instituto, Robson de Castro Ferreira, com os alunos, quando ele deu a oportunidade aos estudantes de fazerem questionamentos sobre cada reivindicação apresentada e esclareceu a todas as dúvidas.
Como consequência da iniciativa dos alunos em se manifestarem, na sexta-feira (1º), um ofício foi enviado aos órgãos de imprensa convidando para uma coletiva com o reitor do IFMG para explicar sobre as obras do instituto, que foram embargadas no bairro Vargem Grande e que culminaram nos problemas de infraestrutura, como deficiência no número de salas de aula (algumas aulas estão tendo que ser realizadas no Colégio Anglo) e de laboratórios, infiltração no prédio atual, banheiros precários, assim como a cantina e o estacionamento, dentre outras reclamações apontadas pelos alunos.
As explicações
Durante a explanação na Câmara Municipal, Caio Bueno explicou que é uma obrigação dos gestores públicos prestarem contas e informações à população. ?Viemos aqui falar sobre o andamento dos problemas que tivemos e que temos com a construção do nosso campus aqui em Formiga. São 38 institutos federais no Brasil. No nosso caso, fundiram por meio do Cefet de Bambuí, do Cefet de Outro Preto e a Escola Federal Agrotécnica de São João Evangelista?.
De acordo com o reitor do IFMG, foi feita a licitação para construir a nova sede em Formiga. ?Uma empresa daqui venceu a licitação e começou a obra que deveria ser inaugurada em março de 2010, com a presença aqui do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Quando eu assumi o instituto, em 2010, e vim aqui fazer a gestão da construção do nosso campus, eu fiquei completamente estarrecido com o que vi lá. Se não embargasse a obra, ela ia cair sobre as nossas cabeças. Cheguei lá e fiquei abismado com o quadro encontrei. As paredes todas trincadas, o teto, uma obra da pior qualidade eu nunca vi na minha vida. Para se ter uma ideia, ali é um ?banco? de areia. Uma altura de areia que chega a 17, 18, 20 metros?,.
O reitor disse ainda que a empresa responsável pelas obras tinha que fazer estaqueamento de 17 metros e estaqueou com 4 metros e meio, construiu os prédios sobre um banco de areia e estão ?flutuando em um oceano de areia?.
O reitor disse que o caminho tomado naquele momento foi embargar a obra. ?Eu chamei a empreiteira e fizemos uma vistoria com nossos engenheiros, no final de janeiro de 2010. Fizemos uma avaliação in loco mostrando toda a tragédia que lá se apresentava. Contratamos uma empresa de engenharia para fazer um laudo. Uma empresa de Belo Horizonte, a Marcon, fez o laudo de vistoria, detectando todos os problemas. Além dos problemas, eles nos falaram para escorarmos o prédio da biblioteca, que iria cair dentre 15 ou 20 dias. Suspendemos então, em janeiro, o pagamento para a empresa, foi pago cerca de R$900 mil. Fizemos outro processo licitatório, contratamos outra empresa para dar solução de engenharia, para mitigar os problemas que se apresentaram?, explicou.
Ainda segundo o reitor, para consertar a obra de R$900 mil outra empresa apresentou uma proposta de R$3.836.399,07. ?Ficamos o ano de 2010 de mãos amarradas. Não podíamos abrir novos cursos, a nossa escola de Formiga, que poderia hoje ter 900 alunos, temos 350 alunos. Estagnou o processo de implantação do nosso campus. Feita a avaliação técnica, optamos por um único caminho, mudar de campus, aquele não serve para nós?.
Caio Bueno contou que a reitoria do IFMG, com o apoio da Advocacia Geral da União, entrará com um processo contra essa empresa responsável para que ela devolva cada centavo do dinheiro gasto para que seja aplicado em Formiga. ?Vamos lutar na Justiça até o último momento?, ressaltou Caio Bueno.
O reitor disse que o próximo passo é passar para o plano B, que é desenvolver o campus de Formiga nos terrenos que foram doados pela Prefeitura, com o apoio da Câmara, sendo um deles, ao lado do atual IFMG, com 3.500 metros quadrados, e outro onde fica a antiga fábrica de banha, com 25 mil metros quadrados, cujo prédio no local será restaurado para abrigar a biblioteca e uma área esportiva. ?Nós vamos desenvolver naquele local o nosso campus. Já fui a Brasília, pois estávamos de mãos e pés amarrados. Já conseguimos os recursos e, dentro de 40 dias, iremos fazer a licitação?. O recurso angariado é de R$3,5 milhões.
O vereador Reginaldo Henrique dos Santos (Dr. Reginaldo/PCdoB) perguntou ao reitor sobre a parceira com a Prefeitura e se o Executivo tinha alguma responsabilidade pelo fato de a obra estar embargada. Caio Bueno disse que não, que a administração municipal está isenta de qualquer responsabilidade. ?Ela não tem responsabilidade nenhuma, a Prefeitura nos doou o terreno. A contrapartida dela era uma área de, no mínimo, 30 mil metros quadrados e encerrava aí a participação da Prefeitura?, explicou.
Repercussão da reportagem
Em entrevista à redação do jornal Nova Imprensa e do portal Últimas Notícias, o reitor do instituto foi questionado sobre o motivo de só agora ele visitar Formiga para falar sobre a obra no bairro Vargem Grande. Ele disse que estava esperando sair os relatórios e laudos para tomarem uma posição dos valores. ?Fechamos isso em dezembro. Fizemos o processo licitatório, que vai começar a construção do campus lá, no novo terreno que foi doado pela Prefeitura, por isso que viemos agora e podemos falar o valor, que é R$ 3,9 milhões?. O reitor ressaltou que só teve a dimensão exata do dano que foi criado pela empresa executora da obra nos últimos meses e que viria a Formiga em fevereiro, mas estava aguardando fechar a planilha de custos.
Sobre a matéria publicada na semana passada pelo jornal Nova Imprensa e portal Últimas Notícias, Caio Bueno destacou que havia conversado com os professores e servidores do instituto, mas que ainda não havia falado com os alunos. ?Mas a reportagem de vocês até precipitou também para darmos uma declaração à cidade. Os alunos mesmo estavam desinformados. Acho que a repercussão que teve também da reportagem do jornal e o papel da imprensa é esse mesmo, é de denunciar, de ouvir as pessoas. Os alunos, em um dado momento, eles estavam incitados por alguém, questões de política interna do próprio instituto lá e isso acontece. O aluno acaba sendo manipulado e tinha outros interesses, mas não tem problema, o papel da imprensa é esse mesmo. Ruim é o país que não tem imprensa, que ela é amordaçada. Isso provoca também o outro lado a vir a público e discutir, colocar a sua versão. Agradeço a reportagem de vocês e espero que continuem fazendo a cobertura lá, com os nossos alunos e professores, as coisas boas e as dificuldades que a gente enfrenta. Até as coisas erradas que, por ventura, a gente faça por incompetência também, não somos perfeitos?, contou Caio Bueno.
A redação apurou que o campus IFMG está passando por um período de eleições da diretoria, por isso o reitor mencionou que os alunos foram incitados por questões de política interna.

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