Com a chegada do verão, com chuvas intensas e constantes, é hora de redobrar o cuidado e atenção com a saúde. Entre os malefícios que elas podem causar estão as doenças de veiculação hídrica, nome dado às doenças que têm relação direta com a água, como a leptospirose e a dengue.
Em Minas Gerais, dezembro e janeiro são os meses em que se concentram os maiores números de casos de leptospirose, por exemplo. Causada pela bactéria Leptospira, presente na urina de ratos e transmitida ao homem por meio do contato com a pele, a leptospirose provocou a morte de 12 pessoas em 2010 e nove em 2011. Nos dois anos, o período de maior incidência se deu no mês de janeiro, com quatro óbitos.
De acordo com o médico infectologista da Superintendência de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Frederico Figueiredo, a melhor forma de prevenir a doença é evitar o contato com águas de inundação, lama e outros resíduos que ficam nas casas depois que ocorrem enchentes ou inundações. ?Quando for inevitável entrar em contato com essa água é importante o uso de luvas e botas. Se a pessoa não as tiver, é possível improvisar com sacos plásticos, colocando dois sacos nas mãos e dois nos pés para evitar o contato direto com a lama e com a água?, completa.
A leptospirose apresenta sintomas semelhantes aos da gripe e da dengue, ou seja, é comum os pacientes apresentarem febre, dor de cabeça e dores pelo corpo (principalmente na panturrilha). Também podem aparecer sintomas como vômitos, diarreia e tosse.
Para evitar uma possível subestimação do problema, que pode causar consequências graves, Frederico Figueiredo alerta para a importância de se procurar atendimento especializado. ?Aos primeiros sintomas, a pessoa deve procurar o Centro de Saúde. Tanto a leptospirose, quanto a dengue e a meningite têm sintomas iniciais muito parecidos, porém o tratamento é diferente para cada caso. Enquanto a dengue é tratada basicamente com hidratação, para as meningites e a leptospirose é fundamental que haja a introdução do antibiótico de forma rápida. É essa agilidade que vai fazer, muitas vezes, diminuir a letalidade dessas doenças?, alerta.
É importante ressaltar que a leptospira penetra na pele através de pequenos ferimentos e, até mesmo, pela pele íntegra se houver um contato prolongado com a água e com a lama. ?Sempre que houver alguma lesão na pele é importante lavar bem o ferimento com água e sabão, e procurar assistência médica para que seja feita uma avaliação do caso. Pode ser que seja necessário tomar vacinas ou fazer algum procedimento específico para aquele tipo de ferimento, como uma sutura, por exemplo?, completa o médico.
Os ferimentos presentes na pele, além de facilitar a infecção pela leptospira, podem ser fonte de entrada para a bactéria Clostridium tetani, causadora do tétano. Ela está presente nas fezes humanas e de animais, na terra, nas plantas, e até em objetos, podendo infectar pessoas de qualquer idade.
Em 2010, foram confirmados 20 casos de tétano acidental em Minas Gerais e quatro óbitos. O número de notificações em 2011 foi o mesmo de 2010, porém está sujeito a alterações; também foram constatados cinco óbitos. A doença ataca principalmente o sistema nervoso central, provocando rigidez muscular em todo o corpo, dificuldade para abrir a boca e engolir. Sintomas como irritabilidade, dor de cabeça, febre e deformações no rosto também podem se manifestar.
?Não existe vacina para dengue e leptospirose, mas para tétano tem. A vacina é gratuita e está disponível nos centros de saúde. Inclusive, a vacina já faz parte do calendário vacinal das crianças, sendo necessário fazer o reforço de dez em dez anos. Por isso é muito importante estar com o cartão vacinal atualizado?, afirma Frederico Figueiredo.
Além da vacina, é fundamental que as pessoas cuidem bem dos seus ferimentos, lavando-os com água e sabão. Esse cuidado faz com que as possíveis toxinas sejam retiradas do corpo, não penetrando nas feridas e evitando, assim, o contágio.
Limpeza do ambiente
Caso haja inundações, é necessário fazer uma limpeza minuciosa do ambiente atingido pela água e lama. A água sanitária é indicada para a limpeza dos reservatórios de água e dos locais que podem ter sido contaminados. O Ministério da Saúde orienta o uso de um litro de água sanitária para mil litros de água.
?É sempre bom orientar que a água sanitária é um produto perigoso. Deve ser mantido longe das crianças e pode causar queimaduras sérias. Por isso a diluição deve ser feita de forma criteriosa. O Centro de Saúde possui manuais que orientam a diluição para limpeza de paredes e chão das casas. Durante a limpeza, é necessário usar luvas e botas para proteção?, alerta o médico infectologista da SES-MG, Frederico Figueiredo.
Cuidados após as chuvas
Para minimizar os danos que as chuvas podem causar é importante tomar alguns cuidados, como não jogar lixo na rua, em lotes vagos, quintal de casa e nos rios, antes que elas aconteçam. Isso porque o lixo, quando jogado nas ruas, entope bueiros e bocas de lobo, provocando inundações. E o lixo jogado nos córregos pode represar a água, causando mais enchentes. Além disso, o lixo favorece a proliferação de mosquitos, ratos e baratas.
Após as chuvas, outros cuidados também são necessários. A Superintendência de Vigilância Epidemiológica da SES-MG alerta para alguns deles:
– Não usar água contaminada pelas enchentes para beber, lavar pratos, escovar os dentes, lavar e preparar alimentos ou fazer gelo.
– Não consumir alimentos que tenham sido contaminados pela água da enchente.
– Jogar fora medicamentos e alimentos (frutas, legumes, verduras, carnes, grãos, leites e derivados, enlatados) que entrarem em contato com a água da enchente, mesmo que estejam embalados com plásticos ou fechados, pois, ainda assim, podem estar contaminados.
– Lavar bem as mãos antes de preparar alimentos e ao se alimentar.
– Utilizar somente água potável, que não tenha tido contato com a chuva, para beber e na preparação dos alimentos, especialmente das crianças menores de um ano.
– Se o abastecimento de água tratada estiver comprometido, devem ser adotados mecanismos mais seguros, como ferver a água por dois minutos ou adicionar duas gotas de hipoclorito de sódio 2,5% (água sanitária) para cada litro de água, aguardando 30 mintos antes do consumo (o hipoclorito de sódio 2,5% para tratamento da água de consumo é distribuído pelos postos de saúde e equipes de PSF).
– Evitar andar com os pés descalços em água de enchente. Se for inevitável, usar luvas e botas de borracha ou plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés, evitando o contato da pele e de ferimentos com água da enchente.
– Não deixe que as crianças brinquem com água parada ou nas enxurradas.
– No caso de haver inundações, remover a lama e a água contaminada de sua casa, sempre protegendo os pés e as mãos com botas e luvas ou sacos plásticos.
– Limpar o piso e as paredes com uma solução de água sanitária: para um balde de 20 litros de água, adicionar quatro xícaras de café (50 ml) ou um copo de 200 ml de água sanitária.
– Não encostar ou colocar as mãos em postes ligados à rede elétrica.
– Na época das enchentes, são comuns os cortes, arranhões e outros ferimentos. Manter em dia o cartão de vacina e tomar cuidado no momento da limpeza.
– Para controlar o aumento do número de mosquitos, eliminar toda água parada existente em objetos como pneus, garrafas, vasos de plantas, latas, etc.
– Tomar cuidado com os animais peçonhentos, como cobras, escorpiões e aranhas. Eles podem estar escondidos ao redor ou mesmo dentro das casas, próximos a entulhos, lixos e alimentos espalhados pelo ambiente.

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