A Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) divulgou, em setembro, uma nova versão das diretrizes para diagnóstico e tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA). O documento substitui a edição anterior, publicada em 2021, e incorpora avanços científicos dos últimos quatro anos, com orientações mais precisas para profissionais de saúde.
Voltado principalmente a neurologistas infantis, psiquiatras, pediatras e demais especialistas que atendem crianças com suspeita ou diagnóstico confirmado de TEA, o texto reforça que o diagnóstico é essencialmente clínico. Ele deve ser baseado na observação da criança, análise de seu histórico e entrevistas com pais, podendo incluir relatos de professores e cuidadores.
A SBNI esclarece que instrumentos como o M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers), o CAST (Escala de Pontuação para Autismo na Infância) e o SCQ (Questionário de Comunicação Social) são úteis apenas para triagem, não servindo como base para diagnóstico definitivo.
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-5), a gravidade do TEA é classificada conforme o nível de suporte necessário, variando do nível 1 (pouco suporte) ao nível 3 (completa dependência). A entidade destaca que essa classificação considera a necessidade de apoio para atividades cotidianas e a independência funcional do paciente.
A diretriz desaconselha a classificação de crianças muito pequenas ou recém-diagnosticadas, já que a avaliação adequada exige tempo de evolução do quadro e idade mais avançada.
Alerta sobre tratamentos sem comprovação
A SBNI também faz um alerta sobre terapias sem respaldo científico, como o uso de ômega 3, vitaminas e suplementos sem deficiência diagnosticada, dieta sem glúten (sem intolerância ou doença celíaca), transplante fecal, ozonioterapia, oxitocina, quelantes de metais pesados, células-tronco, óleos essenciais e florais.
Sobre o canabidiol, a entidade afirma que os estudos disponíveis têm baixa qualidade metodológica e não sustentam sua aprovação regulatória ou indicação clínica. Apesar de seu uso ser comum, os resultados são divergentes, o que pode estar relacionado à heterogeneidade do TEA.
O ácido folínico, forma bioativa do folato, também apresenta resultados inconsistentes nos estudos realizados até o momento.
Por fim, a SBNI recomenda que os profissionais considerem o ambiente da criança durante a avaliação diagnóstica, alertando que fatores de vulnerabilidade social, afetiva, cultural e econômica podem interferir no desenvolvimento e levar a diagnósticos equivocados.
Com informações do O Tempo