Você já consegue receber imagem em alta definição no seu televisor? Pode interagir com o que aparece na tela ao toque do controle remoto? Usufrui a multiprogramação, com novos canais na TV aberta? Se a resposta for não a todas perguntas, parabéns, você é brasileiro e não tem TV digital –assim como praticamente o resto da população. Culpa dos preços (o governo prometeu set-top box por R$ 200, mas a indústria só oferece por R$ 499, no mínimo). Culpa da correria com que as decisões foram tomadas, com a escolha do padrão japonês –mais caro– para satisfazer aos radiodifusores. Culpa da demora para os aparelhos chegaram às prateleiras –afinal, depois de acatados os lobbies, quem se importa?
A partir de ontem a TV aberta brasileira tem três marcos: sua fundação (1950), o início das transmissões a cores (1972) e o começo da TV digital, neste domingo. As duas primeiras estréias contaram com públicos restritos, mas depois suas tecnologias se expandiram ao resto do país. É o que deve acontecer com a TV digital.
O governo estipulou o prazo de 2016 para os brasileiros comprarem uma caixinha conversora ou uma TV que já tenha conversor embutido. Nesta data, o sinal analógico que recebemos será interrompido, segundo o cronograma oficial.

Revolução

Há pouco para se comemorar neste debute da TV digital. A propósito, chamar de debutantes um grupelho de radiodifusores que se perpetua há décadas num mercado cuja moeda de troca sempre foi o favorecimento político é, no mínimo, curioso.
A expectativa dos que anseiam pela democratização no acesso à informação era que, com a TV digital, outras emissoras entrariam no jogo. Os tradicionais produtores/transmissores teriam que se mexer, melhorar o conteúdo. A disputa tornaria-se mais acirrada e mais bonita para o telespectador. Esse incentivo à pluralidade estava previsto no decreto que instituiu o Sistema Brasileiro de Televisão Digital, em 2003.
Mas, ao menos por enquanto, tudo fica na mesma, com foco 100% na alta definição audiovisual, enquanto pontos fundamentais seguem indefinidos e o curral eletrônico preservado. A palavra final sobre a adoção ou não de um sistema que impede a cópia de programas foi prorrogada para depois da estréia oficial, por exemplo. Nos Estados Unidos, maior produtor mundial de conteúdo televisivo, a restrição não foi adotada.
Esse é o lado óbvio da estréia. Quase ninguém assistiu. Ao menos não acompanhou a revolução da TV do jeito que se esperava, ou seja, com áudio e imagem digitais.

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