Janaúba, no Norte de Minas, nunca mais será a mesma. A tragédia ocorrida nessa quinta-feira (5), quando o vigia de uma creche ateou fogo no próprio corpo e em dezenas de crianças que estavam na instituição, deixou um saldo de pelo menos sete mortos e 23 feridos.

O episódio, que repercutiu em todo o mundo, deixou em choque a cidade de aproximadamente 70 mil habitantes. Não bastasse a dor diante da crueldade que ceifou a vida de inocentes, a população ainda precisou lidar com a falta de explicações para um crime tão macabro.

Os relatos são de cenas de horror, onde pessoas tomadas pelo desespero se dividiam entre as tentativas de apagar as chamas e carregar crianças desacordadas. As vítimas estavam com queimaduras de terceiro grau por todo corpo em meio à fumaça asfixiante.

Dentre a multidão que se aglomerou na porta da creche, mães de meninas e meninos feridos sucumbiam em lágrimas, sendo que algumas chegaram a passar mal ao saber do ocorrido. As que encontravam os filhos sãos e salvos também choravam, mas de alívio.

Em questão de minutos, a cidade estava tomada pelo clima de pesar. O empresário Edilson Souza, proprietário de uma lanchonete no Centro de Janaúba, explica que a tragédia gerou comoção generalizada.

“Não demorou nada e apareceram vários pedidos de materiais para o hospital nas redes sociais e nos grupos de Whatsapp. Foi uma loucura”, relata.

O padre Valdecir Pereira, da cidade vizinha de Jaíba, afirma que nunca presenciou tamanha tristeza em uma comunidade. Ele relata que um sobrinho de pouco mais de dois anos, que é aluno da creche, só se salvou porque teve o instinto de correr ao ver o fogo.

“Nunca houve uma tragédia dessas na região. É um povo simples e muito pobre. Janaúba é pura tristeza”, lamenta.

Ato heroico

Na tentativa de salvar suas crianças, a professora Heley de Abreu Silva Batista, 43, se feriu gravemente. Com o próprio corpo em chamas, a professora tentava abafar o fogo ao mesmo tempo em que tirava os alunos pela janela – o vigia havia fechado a porta. Na tarde desta quinta-feira (5), o Corpo de Bombeiros chegou a confirmar o óbito de Heley, mas recuou. Corajosa, ela lutou até o fim.

A professora  está com 100% do corpo queimado, lutando para sobreviver no Hospital Regional de Janaúba

(Foto: Reprodução/Facebook)

Professora há quase duas décadas, Heley era apaixonada por crianças e muito querida na cidade. “Minha casa hoje (5) ficou lotada de visitas. Agora está nas mãos dos médicos e de Deus”, resumiu a mãe, com um pedido final: “Orem por ela”.

O terror na creche remete a uma tragédia pessoal da professora. Há 12 anos, um filho recém-nascido de Heley morreu afogado em uma piscina. À época grávida, a professora sofreu bastante e enfrentou a dor na sala de aula, ao lado de outras crianças.

Doente

O autor do atentado, Damião Soares dos Santos, de 50 anos, vendia picolés pelos bairros de Janaúba em uma motocicleta, nos horários em que não atuava como vigia na creche, segundo informações de moradores da cidade.

Para o delegado da Polícia Civil em Janaúba, Renato Nunes, a tragédia foi causada por “uma mente doentia”. Ele explica que o vigia já apresentava problemas mentais desde 2014 e teria procurado o Ministério Público para denunciar a própria mãe. “Ele afirmava que ela estaria tentando envenená-lo, mas era tudo coisa da cabeça dele”, explica o delegado.

Na casa onde Damião morava, os investigadores encontraram vários galões de álcool. Segundo informações da Polícia Civil, ontem completaram-se três anos desde a morte do pai do criminoso. “Ele dizia que iria dar um presente à família e morrer também essa semana”, destacou Nunes.

Editoria de Arte / N/A

 

Fonte: Hoje em Dia/ O Tempo ||

COMPATILHAR: