A nova onda da pandemia já chegou, na perspectiva de profissionais que atuam em centros de saúde de Belo Horizonte e lidam com a quantidade crescente de pacientes com gripe que se somam aos novos casos de Covid-19 e pressionam o sistema de atendimento básico. Mesmo com menos quadros graves do que no pico da crise sanitária, em 2021, os profissionais da rede assistencial relatam que este é o momento mais tenso da pandemia até então, com corte de pessoal, colegas afastados por adoecimento e assédio diário de pacientes irritados com as longas filas de espera. 

O contrato temporário de 467 profissionais que a prefeitura convocou para a vacinação na pandemia venceu no final de 2021 e deixou um déficit de trabalhadores nos postos, segundo funcionários, mesmo com recontratação de 335 dos profissionais, de acordo com os dados da prefeitura. Além disso, o contrato de 546 profissionais que vinham trabalhando por mais horas para atender à alta demanda foi reduzido novamente – a prefeitura diz reavaliar a extensão de horário. 

“A demanda pela vacina da Influenza aumentou muito agora e, nós, que ficamos nos postos de vacinação, não conseguimos ajudar as outras áreas dos centros de saúde”, relata uma enfermeira de um posto na região Noroeste da capital. Outros 487 profissionais foram afastados desde dezembro, segundo a prefeitura. 

O atendimento a casos com suspeita de Covid-19 em BH nesta semana, quase 16 mil, é maior que o do início de março do último ano, quando a segunda onda se aproximava. Por trás das horas de espera por atendimento em unidades de saúde, além da alta demanda, está a escassez de recursos humanos, justifica outra enfermeira de um centro de saúde na região Centro-Sul. 

“Essa fase de nos acharem heróis durou 15 dias em 2020, agora acabou. Ontem mesmo, fui xingada por um paciente e outra ficou gritando com o gerente. É um momento muito tenso, a enfermagem está assumindo quase tudo, porque tem momentos em que nem médico nós temos. Os pacientes ficam nervosos porque só o médico pode assinar atestado e receitar certos remédios, por exemplo. Na segunda depois do Natal, 40 pessoas já estavam esperando o atendimento na hora de abrir à tarde. Estamos cansados e adoecendo também”, detalha. 

O secretário estadual de saúde, Fábio Baccheretti, prevê uma nova onda da pandemia neste mês, com maior pressão sob o pronto-atendimento e menos casos graves. Ao mesmo tempo, o secretário municipal de saúde da capital, Jackson Machado, pediu à população que procure os centros de saúde, e não as UPAs, para os casos mais leves. 

No dia a dia de quem trabalha nos centros de saúde, a pressão já é realidade. “Graças às vacinas, estamos com casos menos graves e as salas de urgência não estão tão carregadas. Mas as portas de entrada estão em colapso. Este é pior momento da pandemia para nós. Em março e abril de 2021, as CTIs estavam lotadas, mas agora a pressão é nas salas de atendimento”, diz o diretor do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel), Bruno Pedralva. 

O sindicato cobra abertura de centros de testagem pública fora de centros de saúde e de UPAs, adiamento de consultas eletivas na cidade e ampliação de pontos de vacinação em igrejas, escolas e outras instituições. Ele também demanda a recontratação dos profissionais dispensados e a presença de guardas fixos nas unidades de saúde. 

Respostas da prefeitura

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) disse que os trabalhadores são informados sobre o fluxo a seguir em casos de violência nas unidades e podem contar com atendimento sociofuncional oferecido pela Secretaria Municipal de Saúde. O governo municipal não comentou a falta de guardas municipais nos centros de saúde, apontada pelos trabalhadores. 

Fonte: O Tempo

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