O órgão científico que assessora a Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o aumento das temperaturas divulgou um novo relatório.

Trata-se de um resumo importante a respeito de cinco informações-chave obtidas em pesquisas concluídas nos últimos cinco anos.

A seguir, o correspondente de meio ambiente da BBC, Matt McGrath, aponta as principais mensagens que aparecem no documento.

1 – O limite de temperatura será ultrapassado. Como reduzir depois?

Os tons sóbrios deste estudo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) deixam claro que há pouquíssima chance de evitar que o mundo aqueça mais de 1,5 °C.

Os governos haviam concordado anteriormente em agir para evitar isso. Porém, o mundo já aqueceu 1,1 °C, e agora os especialistas dizem que é provável que ultrapasse 1,5 °C ainda na década de 2030, apesar de todos os discursos políticos.

“Sempre ficou claro no IPCC e na ciência do clima que não é muito provável que sempre fiquemos abaixo de 1,5 °C [de aumento da temperatura global]”, diz Oliver Geden, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança e membro da equipe de redação do relatório.

Geden e outros especialistas agora argumentam que voltar para um patamar menos de temperatura o mais rápido possível depois de ultrapassar essa marca é onde o foco deve estar.

Ou seja: a temperatura vai subir mais de 1,5 °C, mas o que podemos fazer para que ela diminua depois disso?

Ultrapassar esse limiar é arriscado, como o próprio relatório reconhece, porque isso pode provocar pontos de inflexão que não podem ser desfeitos, como o derretimento de camadas de gelo profundas — que, por sua vez, liberaria grandes quantidades de gases na atmosfera.

O retorno após ultrapassar o limiar também exigirá tecnologias caras e que ainda não estão comprovadas como uma forma de extrair o excesso de gás carbônico (CO2) da atmosfera.

Todo esse cenário também significa que é urgente chegar o mais rápido possível ao zero líquido — onde a quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera não aumenta. Cada novo incremento do aquecimento global realmente importa.

2 – Não há futuro para combustíveis fósseis

Embora o relatório não diga isso com todas as letras, há algumas indicações claras de que não há futuro para as energias provenientes de carvão, petróleo e gás em um planeta habitável no futuro.

O texto destaca que as formas renováveis de energia, como a eólica e a solar, são cada vez mais baratas — e manter os combustíveis fósseis pode sair mais caro do que fazer a transição para sistemas de baixo carbono.

“Me parece que a mensagem, em termos de urgência, é parar de queimar combustíveis fósseis o mais rápido possível”, pontua Friederike Otto, um dos autores do relatório, à BBC News.

“Não é porque nos falta alguma peça importante de tecnologia ou algum conhecimento importante. É porque até agora faltou o senso de urgência nos locais onde as decisões importantes são tomadas.”

3 – O poder está em nossas mãos

Embora seja fácil pensar que os relatórios científicos sobre mudanças climáticas são todos sobre governos e políticas de energia, o IPCC tem se esforçado para destacar o fato de que as ações que as pessoas podem tomar fazem uma enorme diferença no quadro geral.

“Poderíamos cortar de 40 a 70% das emissões projetadas para 2050 com medidas feitas no final da linha, pelas pessoas”, calcula Kaisa Kosonen, do Greenpeace, que foi uma das observadoras da sessão de aprovação do mais recente relatório do IPCC.

“Isso inclui mudar para dietas à base de vegetais, evitar viagens de avião, construir cidades mais acessíveis a pé e de bicicleta…”, exemplifica a especialista.

O relatório incentiva que os governos reformem os sistemas de transporte, indústria e energia para que as escolhas de baixo carbono se tornem muito mais fáceis e baratas para os indivíduos.

4 – As ações de agora repercutirão por milhares de anos

É incrível pensar que as decisões que tomarmos nos próximos sete anos ecoarão ao longo dos séculos.

O relatório adverte que, com o aquecimento sustentado entre 2 e 3 °C, as camadas de gelo da Groenlândia e da Antártica Ocidental serão perdidas “quase completa e irreversivelmente” ao longo de vários milênios.

Muitos outros limiares serão ultrapassados mesmo diante de baixos níveis de aquecimento, o que ainda impactaria as geleiras do mundo.

Para interromper esse trem descarrilado do aquecimento, os governos precisam aumentar os compromissos ambientais antes de 2030, para atingir o zero líquido em 2050, a fim de manter o aquecimento em torno de 1,5 °C até o ano 2100.

“Acho que os sistemas climáticos, como também os sistemas sociais e os ecossistemas, nos mostram que medidas são urgentes, para que ainda possamos mudar o mundo para torná-lo um lugar melhor para todos nós”, resume Otto.

5 – Agora é sobre a política

A verdadeira força do IPCC é que seus relatórios são acordados entre os governos — ou seja, os textos são aprovados pelos representantes dos países na presença dos cientistas responsáveis pelo trabalho.

Mas o futuro dos combustíveis fósseis está se tornando cada vez mais uma questão política.

Em novembro passado, durante a COP27 realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, vários países tentaram, mas não conseguiram, que a ONU concordasse em eliminar gradualmente o petróleo e o gás, bem como o carvão.

Este argumento não vai desaparecer — com a União Europeia agora apoiando abertamente esse movimento.

O mais recente relatório do IPCC será fundamental quando os países se reunirem novamente na COP28 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no final deste ano.

Fonte: G1

 

 

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