O mundo atual tem muitos líderes populistas. Eles insistem em considerar como inimigos os opositores, vêm mérito somente em seus apoiadores (muitos de ocasião), considera a oposição ser a titularidade de possíveis complôs para tomar o poder. Insultam grosseiramente os opositores, mas ficam ressentidos com qualquer revide. No geral, vislumbram golpes contra o seu governo, para garantir a polarização política e o engajamento dos seus seguidores.
As teorias da conspiração são hipóteses urdidas com a finalidade de subverter a situação política vigente. Elas tomam o imaginário do cidadão comum e são frequentes no ambiente democrático.
Essas teorias sempre existiram no cotidiano das pessoas e enriquecem o imaginário coletivo, seja ao propalar eventuais golpes ou a existência de instituições secretas poderosas. Elas tomaram maior vulto no ambiente de digital das redes sociais, pela facilidade da divulgação de suas conjecturas.
No Brasil, por exemplo, a inventividade é gigante e as teorias da conspiração associam quaisquer fatos ocorridos com autoridades públicas (acidentes, mortes, etc.) a simples jogos de poder para a eliminação de adversários.
O cidadão tem o sentimento de todo o sistema vigente se mover no sentido de lhe prejudicar, de ser um joguete nas mãos dos poderosos e de a maioria das decisões serem feitas longe do debate público, para atender a interesses específicos.
Temos, de vez em quando, a divulgação pela ‘imprensa livre’ de decisões feitas e não publicizadas, confirmando a impressão de se ter uma transparência seletiva.
Aí fica a sensação, externada por Pedro Cardoso (Pedro Cardoso eu mesmo: em busca de um diálogo contra o fascismo brasileiro, Rio de Janeiro: Record, 2019, p. 27), de os grupos no poder governarem para atender somente os seus interesses: “Na minha opinião, todo grupo de pessoas que se organiza para chegar ao poder – qualquer dos três poderes – pretende enriquecer valendo-se da riqueza do Estado. O álibi é sempre o mesmo: o bem do povo, o qual é realizado na medida da conveniência do grupo, pelo bem do grupo”.
Para contestar as teorias da conspiração as instituições de controle democráticas devem efetivamente funcionar, limitar o poder estatal e garantir a transparência de todos os atos.
Além disso, no jogo democrático, sempre teremos ganhadores e vencedores, de ocasião, pois uma das premissas da democracia é a alternância política, como forma de estarem representadas todas as classes no poder, de forma periódica.
A manutenção de candidatos e partidos, com reeleição sucessivas, aguça as teorias da conspiração e justifica a crença de ‘resultados arranjados’.
Os líderes políticos devem aceitar naturalmente os resultados dos pleitos políticos, mesmo nas ocasiões de perda, para garantir a permanência do jogo político, romper o ciclo das teorias da conspiração e não alimentar suas hipóteses fantasiosas, tão maléficas às democracias.