Os profissionais da saúde pública e privada em Minas Gerais estão entre os mais afetados por transtornos mentais relacionados ao trabalho, conforme apontam dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Entre os anos de 2022 e 2025, foram registradas 2.804 notificações de casos no Estado, sendo que 13,5% envolviam técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde e enfermeiros — ocupando, respectivamente, a 1ª, 2ª e 6ª posições entre as profissões mais atingidas.
Alta de casos e impacto da pandemia
O ano de 2024 apresentou o maior número de registros no período, com 972 casos notificados, um crescimento de 29,6% em comparação a 2023. O dado acende um alerta para autoridades e especialistas da área. Para o superintendente regional do trabalho em Minas Gerais, Carlos Calazans, a pandemia de Covid-19 agravou o quadro emocional dos profissionais da saúde, levando muitos ao limite.
“Esses profissionais saíram da pandemia bem abalados psicologicamente. Teve lugares que, se entravam dez pessoas para internar, seis morriam. E junto com isso perderam colegas também que estavam trabalhando. Então o estresse, a ansiedade, a tristeza e a angústia reinaram nesse ambiente, e isso vai ser tipificado logo daqui uns anos”, afirmou Calazans.
Desgaste pré-existente e cobrança por valorização
Para Lionete, diretora executiva do Sindicato dos Servidores da Saúde de Minas Gerais (SindSaúde), a pandemia não criou a crise, mas escancarou um cenário de descaso que já existia. “No dia a dia, o problema no serviço de saúde começa na portaria e vai até o médico”, critica.
Ela também contesta a romantização da categoria. “Desde quando eu estudava para ser técnica de enfermagem eu ouvia uma coisa que eu repudio, que é falar que nós, trabalhadores da saúde, somos anjos de branco. Não somos anjos, somos pessoas que têm direito à valorização e respeito. Anjo não fica cansado, não sente raiva, tristeza, tensão”, protestou.
Alta carga de trabalho e pressão constante
O professor de psicologia Thales Coutinho também contribuiu para o debate, destacando que a sobrecarga de trabalho, especialmente em setores de emergência, contribui diretamente para os altos índices de adoecimento mental.
“Os índices de burnout que é o estresse e esgotamento pelo trabalho — são elevados entre médicos e enfermeiros de hospitais. Além da carga horária ser geralmente muito elevada, a tensão envolvida nessa atividade é muito alta. Claro que todos os profissionais têm suas tensões, mas nas unidades de saúde existe uma linha muito tênue entre a vida e a morte. Essa luta para salvar pacientes o tempo inteiro causa angústia e estresse, até um ponto em que a resiliência não consegue mais barrar isso e a pessoa adoece”, explicou.
O aumento expressivo de casos de transtornos mentais entre profissionais da saúde em Minas Gerais expõe a urgência de políticas de proteção e valorização da categoria. Entre a pressão diária da rotina hospitalar, a sobrecarga de trabalho e a falta de reconhecimento, esses trabalhadores enfrentam um cenário que compromete não só seu bem-estar, mas também a qualidade do serviço prestado à população. O desafio é garantir que aqueles que cuidam da saúde de todos também tenham sua saúde física e mental preservada.

Foto: Divulgação/O Tempo
Com informações do O Tempo