Com forte apelo de compras de Natal e de olho no fôlego da nova classe média para o consumo, as empresas estão distribuindo o pagamento dos produtos em mais de um cartão de crédito para burlar o obstáculo da renda. Embora ainda seja uma modalidade desconhecida do grande público, a estratégia já é adotada nas lojas e sites de grandes redes varejistas como a Ricardo Eletro e o Ponto Frio, sobretudo na oferta de eletrodomésticos e eletroeletrônicos pela internet.
A estratégia tem um alvo certo: pessoas que têm limite baixo no cartão e que precisam aumentar o poder de fogo na compras de produtos mais caros, como TV, geladeira e fogão, os maiores sonhos de consumo da classe C.
Para a socióloga Leticia Veloso, da Universidade Federal Fluminense (UFF), a Classe C já estabelece suas próprias estratégias na compra de bens. Esse público está diversificando as formas de consumo e a internet veio para facilitar. Muitos já usam mais de um cartão para compras ou é comum que vários membros da família se unam para comprar um bem juntos, afirma.
Para a advogada Ellen Gonçalves, do Pires & Gonçalves Advogados Associados, o fato de a nova classe média consumir um produto durável é uma amostra de cidadania, mas deve haver educação financeira. É preciso haver campanhas educativas para que haja um consumo consciente. Existe uma demanda por crédito muito grande e é necessário que as pessoas não deem um passo maior que as pernas.
Segundo especialistas em varejo, as medidas anunciadas de redução do IPI sobre a linha branca devem turbinar o Natal deste ano. Mesmo assim, o varejo está cauteloso nas estimativas.
Na reta final para o Natal, o setor reduziu em menos da metade a projeção de crescimento de vendas. Depois do desempenho recorde de 2010, quando a receita aumentou 10% sobre o ano anterior, agora a expectativa é de um acréscimo de 2% nas vendas de dezembro na comparação com o mesmo mês do ano passado e levando-se em conta o mesmo número de dias.
Se a projeção se confirmar, este será o segundo pior Natal em quatro anos. Só perde para o de 2008, quando houve retração de 1,7% por causa da crise americana, apontam dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Aviação
As companhias aéreas são outras que estão lançando estratégias para a nova classe média. Gol, TAM e Webjet passaram a comercializar passagens também em metrôs, centros populares e lojas do varejo. Era um público que não estava sendo atingido pela internet e que prefere encontrar o vendedor olho no olho para tirar dúvidas e traduzir o que não entende, afirma o gerente comercial da nova classe média da Gol, André Matos.
Matos afirma que a Gol quer fazer da classe C a maioria do seu público consumidor (mais de 60%) até o fim do ano que vem. Atualmente ela corresponde a 47% da clientela da companhia, sendo que 10% desses estão pegando o avião pela primeira vez. Como é um público que estava acostumado a andar de ônibus, ele juntava dinheiro para viajar e agora está se deparando com o crédito, a Gol parcela voos em até 36 vezes, diz.

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