Meia hora. Foi o tempo que os vereadores de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, gastaram discutindo a possibilidade de construção de uma sede para associações de jogo de buraco. O desperdício não é só de tempo. É de dinheiro público. Os parlamentares nova-limenses estão entre os mais bem pagos do estado. Reúnem-se quatro vezes por mês e recebem quase R$ 12 mil, sendo R$ 5,2 mil de subsídio e R$ 6 mil de verba de gabinete. Pela sessão do dia 19, em que debateram a jogatina, eles embolsaram aproximadamente R$ 3 mil.
Nada mal para uma sessão que durou pouco mais de duas horas. O lero-lero era tanto que até o presidente da Casa, Ronaldes Gonçalves Marques, reclamou. Depois foi a vez do secretário-geral da Mesa, vereador José Raimundo Martins, o Zuca (PMDB), confirmar o que todo mundo já sabe: Ganhamos para isso e bem. Temos de cumprir nosso dever e seguir o regimento, em referência à falta de organização da Casa, onde nem a pauta da sessão estava pronta.
Mesmo assim, os parlamentares não se importaram de incluir na agenda da próxima reunião, em regime de urgência, um projeto de lei do Executivo que cria cerca de 800 cargos. Antes mesmo de ter acesso à proposta e apenas com a explicação do prefeito Carlinhos Rodrigues (PT), já havia parlamentar defendendo a proposta: É de muita importância e vem em direção àquilo que estávamos cobrando, disse o vereador Luciano Gomes (PSL).
As sessões plenárias na cidade são marcadas para as terças-feiras, às 18h. Nos demais dias da semana, não há controle de frequência. Ronaldes Marques não retornou as ligações telefônicas para comentar o assunto. A realidade do Legislativo de Nova Lima não é diferente da de outras cidades do estado. Depois de mostrar os altos salários dos prefeitos mineiros, o Estado de Minas vai em busca da difícil matemática do Legislativo municipal, que paga bons salários, oferece muitos privilégios e exige pouco trabalho.
Na maioria das cidades consultadas pelo EM, as reuniões são marcadas para as terças-feiras, apesar de os vereadores morarem no local. Em Grupiara, no Sul de Minas, o presidente da Câmara não foi localizado. Estava viajando. Em Sete Lagoas também. A secretária não soube informar o motivo nem mesmo o destino.
Em Araguari, no Triângulo Mineiro, a presidente da casa, Eunice Maria Mendes (PMDB), confirma a jornada dupla, comum na vida de muitos vereadores, já que não é exigida dedicação exclusiva e muito menos que os parlamentares batam ponto. Sou funcionária do estado e estou tendo que pedir licença porque estou com muita falta , avisa a única mulher do Legislativo municipal, que conseguiu retomar o mandato depois de quatro anos. Temos advogados, comerciantes? Mas muita gente tem dificuldade de conciliar com as reuniões com alguns setores e de participar das atividades da comunidade. Quanto ao alto salário ? R$ 7 mil e a verba de representação de R$ 1 mil pelo cargo que ocupa ?, a vereadora justifica: É interessante para que ninguém ocorra em ilicitude. A reunião da Câmara de Araguari é realizado todas as terças-feiras, às 17h. Assim como em Ibiaí, no Norte de Minas. As sessões eram às segundas, mas dois vereadores estudam em Pirapora, e houve mudança. O salário deles é de R$ 4,6 mil.
Apenas visita e correspondência
A pouca produtividade do Legislativo de Dores do Indaiá, no Centro-Oeste do estado, é tanta que nem o presidente da Câmara Municipal, Rivalton Cruz de Matos (PSL), soube destacar alguma iniciativa. Não lembro de cor, diz. Diante da insistência, ele retruca: Assim, de repente, não tem como dizer. Sincero, o parlamentar, que recebe mensalmente R$ 4,3 mil, admite que (o vereador) recebe mais do que trabalha. Fazemos o possível conforme a necessidade da cidade, destacando que o parlamentar trabalha 24 horas pelo município. Os demais vereadores recebem mensalmente R$ 2,9 mil e se reúnem uma vez por semana, às 19h. Na sessão da última terça-feira, foram lidas correspondências, analisados requerimentos e eles receberam a visita do secretário municipal de Saúde.
Com mais de R$ 28 mil à disposição mensalmente, os vereadores de Contagem também só fazem uma sessão por semana. Eles ainda contam com o auxílio-paletó de R$ 1,5 mil, apesar de a Casa não obrigar o uso do traje nas sessões. Durante mais de uma semana, o Estado de Minas procurou o presidente da Câmara, Irineu Inácio da Silva (PSDC). Não houve resposta. A assessoria de imprensa informou na quarta-feira por e-mail que as perguntas enviadas (na quinta-feira, dia 21) estariam sendo apuradas pela Casa. Até o fechamento desta edição, não houve resposta.

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