O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou nesta segunda-feira (14) aplicar um pacote “tarifas severas” à Rússia caso o governo de Vladimir Putin não alcance um acordo de paz na Ucrânia em um prazo de até 50 dias.
Trump disse que o valor das tarifas será de “cerca de 100%” além dos valores já atualmente aplicados. Já a Casa Branca, em comunicado após a declaração do presidente dos EUA, afirmou quea taxa aplicada a Moscou será de fato de 100%caso não haja cessar-fogo no período de 50 dias.
“Estamos muito, muito insatisfeitos (com a Rússia), e vamos aplicar tarifas muito severas se não alcançarmos um acordo (de cessar-fogo) em 50 dias”, disse Trump, durante reunião com o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, na Casa Branca.
No encontro, o norte-americano disse também que enviará uma nova leva de armamento às tropas ucranianas, selando a retomada das ajudas dos EUA a Kiev, selando a reaproximação com o governo ucraniano, com quem teve desavenças ao longo deste ano.
No fim de julho, o Pentágono chegou a anunciar a suspensão do envio de mísseis de defesa aérea e munições de precisão. Nesta segunda, como havia dito no domingo (13), Trump reafirmou que enviará a Kiev mais sistemas antimísseis Patriot, o poderoso “escudo” do Ocidente cujo uso na Ucrânia Putin já disse considerar “uma provocação”.
O Patriot é o mais avançado sistema de defesa que o Ocidente já enviou à Ucrânia, e cada unidade custa cerca de US$ 3 milhões (R$ 15,6 milhões).
Nesta segunda, Trump não só reafirmou que enviará os mísseis bloqueadores do Patriot — que caçam e destroem no ar mísseis e drones russos — como também disse que mandará, através da Otan, baterias para lançamento do sistema, o que agiliza seu uso por tropas ucranianas.
“Teremos alguns chegando muito em breve, dentro de alguns dias… alguns países que possuem Patriots farão a troca e substituirão os Patriots pelos que já possuem. É um complemento completo com as baterias”, disse.
No encontro com Rutte, Trump também disse que o comércio é “excelente para resolver guerras” para justificar o aumento das tarifas à Rússia que ele ameaçou aplicar.
Logo após a guerra da Ucrânia começar, em março de 2022, os EUA aplicaram um amplo pacote de sanções econômicas à Rússia, o que praticamente inviabilizou o comércio de bens e mercadorias entre os dois países.
Até por isso, o governo de Vladimir Putin não entrou na ampla lista de países afetados pelo tarifaço anunciado por Trump em abril.
Apesar da sanções, no entanto, as relações comerciais entre EUA e Rússia ainda existem. Só em 2024, o comércio total entre os dois países chegou a US$ 3,5 bilhões, com a compra e venda de mercadorias como fertilizantes, metais e até combustível nuclear, segundo o Escritório do Representante Comercial dos EUA.
Mudança de rumo
Os anúncios desta segunda-feira indicaram também como Trump mudou sua rota política na guerra da Ucrânia.
Desde que assumiu sua segunda gestão à frente da Casa Branca, em janeiro de 2025, o norte-americano vinha indicando uma aproximação com Vladimir Putin, com quem chegou inclusive a ensaiar um acordo de cessar-fogo sem a presença da Ucrânia nas negociações.
Em fevereiro, ao receber o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para uma reunião na Casa Branca, Trump disparou contra o ucraniano: diante da imprensa mundial no Salão Oval, bateu boca e levantou a voz com Zelensky, a quem acusou de querer incitar uma Terceira Guerra Mundial.
Após a confusão, a reunião entre os dois chegou a ser cancelada, e Zelensky deixou a Casa Branca antes da hora.
Em paralelo, o norte-americano chegou a elogiar Vladimir Putin, mas, aos poucos, começou a demonstrar decepção com o líder russo, após Moscou recusar diversas vezes condições impostas por Washington para um cessar-fogo na Ucrânia. Recentemente, Trump chegou a chamar Putin de inútil e tem criticado bombardeios russos à Ucrânia.
Após as declarações de Trump, Kaja Kallas, a chefe da diplomacia da União Europeia, disse a jornalistas que estava satisfeita com a postura mais rígida do presidente dos EUA em relação à Rússia, mas que um ultimato de 50 dias para punir Moscou era “muito longo”:
“É muito positivo que o presidente Trump esteja adotando uma postura firme contra a Rússia. Por outro lado, 50 dias é um tempo muito longo se considerarmos que estão matando civis inocentes todos os dias”.
Fonte: G1