O Instituto Butantan está desenvolvendo um medicamento inovador para proteger gestantes contra o vírus Zika. A proposta é criar anticorpos monoclonais (mAbs) que possam ser usados de forma preventiva em futuras epidemias, evitando os danos irreversíveis causados pelo vírus, especialmente em fetos. A tecnologia é resultado de uma parceria com a Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, e promete ser uma importante ferramenta de resposta rápida a surtos, como o ocorrido no Brasil entre 2015 e 2016.
O surto de Zika ocorrido no Brasil durante esse período gerou um aumento alarmante no número de casos de microcefalia e outras malformações congênitas, o que levou o país a declarar Emergência em Saúde Pública. O novo medicamento visa proteger gestantes contra o vírus de forma eficaz e imediata, utilizando anticorpos monoclonais produzidos em laboratório.
Tecnologia de ponta e desafios no desenvolvimento
Os anticorpos monoclonais são proteínas criadas em laboratório que mimetizam a ação dos anticorpos naturais do organismo, mas com alta especificidade contra o vírus Zika. Embora amplamente usados em tratamentos contra câncer e doenças autoimunes, a inovação do Butantan está no uso preventivo dessa tecnologia, voltada para a proteção de populações vulneráveis, como as grávidas.
O maior desafio do projeto está na duração limitada dos anticorpos no corpo humano. Em geral, esses anticorpos permanecem apenas três semanas na circulação, o que tornaria necessária uma aplicação repetida durante a gestação. Para contornar esse problema, os pesquisadores do Butantan estão aplicando técnicas de engenharia genética para aumentar a duração da proteção, permitindo que uma única dose seja suficiente para proteger tanto a mãe quanto o bebê ao longo de toda a gestação. “Estamos trabalhando com o conceito de imunização de longa duração, um desafio biotecnológico, mas viável com as tecnologias atuais“, afirma Ana Maria Moro, diretora do Laboratório de Biofármacos do Butantan.
Uma resposta emergencial contra surtos
A aplicação dessa abordagem é particularmente relevante em um contexto onde o vírus Zika pode se espalhar rapidamente, como demonstrado no Brasil durante o surto de 2015-2016. Naquele período, o país registrou mais de 260 mil casos prováveis de Zika, com um aumento expressivo no número de bebês nascidos com microcefalia e outras malformações. A rapidez com que o vírus pode se disseminar, aliada à falta de uma vacina eficaz na época, destaca a importância de se ter soluções de emergência, especialmente para proteger as grávidas, as mais afetadas pelas consequências do vírus.
Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan, ressaltou que os anticorpos monoclonais representam uma estratégia crucial de resposta emergencial. “Uma epidemia de Zika ocorre em surtos muito rápidos. Precisamos ter soluções prontas para proteger as populações mais vulneráveis, especialmente as grávidas“, afirmou.
O desenvolvimento de anticorpos monoclonais pelo Instituto Butantan representa um avanço significativo na luta contra o vírus Zika, oferecendo uma solução potencialmente eficaz para proteger gestantes em futuras epidemias. Com a promessa de uma proteção de longa duração com uma única dose, a pesquisa pode não apenas salvar vidas, mas também evitar danos irreversíveis ao feto, como os observados durante o surto de 2015-2016. Esse projeto destaca a importância da preparação e da inovação tecnológica na resposta a surtos de doenças infecciosas.
Com informações Estado de Minas