Consumidores brasileiros podem se deparar com um aumento no preço da carne bovina nas próximas semanas. O motivo está relacionado a uma combinação de fatores típicos do setor agropecuário, como a redução da oferta de animais para abate devido a mudanças no ciclo pecuário e os impactos da estiagem que se estende até outubro.

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o início de outubro já apresenta sinais de alta nos preços da carne em São Paulo e em outras regiões monitoradas. A principal causa apontada é o tempo seco, que compromete a qualidade dos pastos e reduz a disponibilidade de animais criados a pasto.

A analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar), Mariana Simões, explica que, em anos anteriores, a seca levava alguns produtores a antecipar o abate dos animais devido à dificuldade de manejo do gado. Como alternativa, muitos recorrem à suplementação com ração à base de milho e soja para manter os níveis nutricionais do rebanho. No entanto, nem todos os produtores conseguem se planejar financeiramente para isso.

Apesar do histórico de aumento da oferta em épocas de estiagem, o cenário de 2025 mostra uma mudança no comportamento do setor. “Tivemos, até o primeiro semestre deste ano, abates recordes de fêmeas, o que comprometeu a reposição de bezerros e reduziu a oferta de animais prontos para o abate”, observa Simões. Ela afirma que essa menor oferta pode impulsionar a recuperação dos preços pagos aos produtores — um movimento que tende a se refletir também nos preços ao consumidor final.

Simões acrescenta que a expectativa inicial era de que o ciclo pecuário se invertesse até meados de 2025, o que não se concretizou. Assim, o cenário de recuperação dos preços da carne bovina deve se estender ao longo de 2026.

Além do aumento de preços, a qualidade da carne e do leite também pode ser impactada pelas condições climáticas adversas. Segundo o coordenador de bovinocultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), Nauto Martins, a distribuição irregular das chuvas em 2025 compromete a qualidade dos pastos e, consequentemente, da carne e do leite produzidos.

No caso da carne, há mercados que pagam pela qualidade, especialmente por características como a gordura intramuscular — o chamado marmoreio. Com menos pasto de qualidade, essa característica tende a diminuir”, explica Martins.

Já na produção de leite, a estiagem reduz os sólidos presentes no produto, o que também afeta sua qualidade. Com a menor oferta e menor qualidade, a captação de leite pelas indústrias e cooperativas diminui, provocando aumento de preços ao consumidor.

Diante da redução na oferta de gado, mudanças no ciclo pecuário e os efeitos da estiagem prolongada, o consumidor deve se preparar para pagar mais caro pela carne bovina nas próximas semanas. Além disso, a qualidade dos produtos de origem animal pode sofrer variações negativas, tanto na carne quanto no leite. Especialistas indicam que esse movimento de alta nos preços pode se estender até 2026, acompanhando a lenta recuperação do setor pecuário nacional.

Com informações do jornal O Tempo

 

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