Às vésperas da COP30, o Brasil recebeu um alerta que não veio da diplomacia nem da ciência — veio do céu. Um tornado com ventos de 250 km/h rasgou cidades do Paraná, deixou mortos, feridos, isolou comunidades e interrompeu o ENEM. Tornados dessa escala são raros por aqui, mas, no atual regime climático, o que era exceção começa a se insinuar como o próximo normal.

Esse não foi um episódio isolado. Foi mais um capítulo de uma sequência brutal: enchentes sem precedentes no Rio Grande do Sul, incêndios que consumiram o Pantanal, recordes de calor no Sudeste e secas históricas na Amazônia. A meteorologia já não descreve o clima — ela narra episódios de sobrevivência.

A coincidência entre o desastre no Paraná e o início da COP30 em Belém imprime um tom de urgência desconfortável, quase constrangedor. O Brasil tenta se vender como liderança climática, mas, enquanto discursos avançam no microfone, metas permanecem paradas no papel — aqui e lá fora. Muitos dos maiores emissores sequer atualizaram seus compromissos internacionais. O pacto climático selado em Paris em 2015 está sendo corroído não pela falta de tecnologias, mas pela falta de coragem política.

Belém, cidade-sede dessa COP histórica, tornou-se símbolo da encruzilhada planetária: em 20 anos, a capital amazônica registrou aumento médio de 1,5°C — o limite crítico estabelecido pelo próprio Acordo de Paris. A cidade convive com desigualdade, desmatamento urbano, falta de saneamento e fumaça de queimadas que vêm, não raro, do próprio entorno amazônico.

Com cerca de 50 mil participantes, a COP30 tornou-se o grande palco das contradições globais. De um lado, países vulneráveis — muitos africanos e latino-americanos — exigem financiamento climático: US$ 1,3 trilhão por ano apenas para adaptação. Do outro, as nações historicamente mais ricas e mais poluentes hesitam, negociam, adiam, relativizam.

Enquanto isso, a conta climática não espera: populações inteiras já estão pagando.

O Brasil tenta liderar iniciativas como pagamentos por serviços ambientais e créditos de carbono, especialmente em parceria com países amazônicos. O mundo observa o Brasil com esperança — mas também com cautela.

Pesquisadores e ambientalistas classificam a COP30 como a última janela operacional para impedir um aquecimento global irreversível. O tempo para promessas acabou — agora, o custo da hesitação é contado em vidas, territórios e crises humanitárias.

O tornado no Paraná, as enchentes no Sul, o calor na Amazônia e os incêndios no Pantanal — nada disso é coincidência. É consequência.

Na COP30, o mundo está dividido entre o Sul global, guardião das florestas e futuro epicentro dos impactos, e o Norte industrializado, responsável por grande parte das emissões históricas.
Entre eles, uma discussão que já não é apenas ambiental — é moral: quem poluiu deve pagar; quem preserva deve ser remunerado.

O planeta já mudou. A pergunta agora é: os governos vão mudar também? Ou seguirão negociando enquanto o próximo desastre se forma no horizonte?

 

 

 

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