A Alemanha inaugurou em agosto uma linha ferroviária que funcionará inteiramente com hidrogênio, uma novidade mundial e um avanço para descarbonizar o transporte ferroviário, apesar da dificuldade de acesso a essa nova tecnologia.

Uma frota de 14 trens, vendida pelo grupo francês Alstom para a região da Baixa Saxônia (norte), substituirá as atuais locomotivas a diesel para cobrir os 100 km da linha que liga as cidades de Cuxhaven, Bremerhaven, Bremervörde e Buxtehud.

“Estamos muito orgulhosos de poder explorar comercialmente esta tecnologia, isso é algo inédito no mundo”, declarou nesta quarta-feira o presidente da Alstom, Henri Poupart-Lafarge.

Os trens a hidrogênio são uma forma privilegiada de reduzir as emissões de CO2 e substituir o diesel, que continua a alimentar 20% das viagens ferroviárias na Alemanha.

Os trens da Alstom combinam o hidrogênio armazenado a bordo com o oxigênio presente no ar, graças a uma célula de combustível, que produz a eletricidade necessária para garantir a tração do comboio.

A nova frota, que custou “93 milhões de euros” (92,3 milhões de dólares), evitará gerar “4.400 toneladas de CO2 todo ano”, segundo a LNVG, que opera a rede a nível regional.

– Chuva de pedidos –

Projetados na cidade francesa de Tarbes e montados em Salzgitter, no centro da Alemanha, esses trens são testados comercialmente desde 2018, com dois funcionando regularmente.

A Alstom já assinou quatro contratos para entregar dezenas de trens na Alemanha, França e Itália, e a demanda continua crescendo.

Só na Alemanha, “entre 2.500 e 3.000 trens a diesel poderiam ser substituídos por trens a hidrogênio”, declarou à AFP Stefan Schrank, chefe do projeto em Alstom.

“Em 2035, entre 15 e 20% do mercado europeu de rotas regionais poderá funcionar com hidrogênio”, afirma Alexandre Charpentier, especialista em ferrovias da consultoria Roland Berger, à AFP.

Os concorrentes da Alstom também entraram neste mercado. O grupo alemão Siemens apresentou em maio um modelo para a companhia ferroviária Deutsche Bahn, com vista ao comissionamento em 2024.

Mas além das belas perspectivas, “há barreiras reais”, alerta o especialista.

Não apenas os trens procuram o hidrogênio, mas todo o setor de transporte, rodoviário e aéreo, bem como a indústria pesada – siderúrgica e química – que apostam nesta tecnologia para reduzir as emissões de CO2.

– Recurso escasso –

Com o anúncio em 2020 de um plano de investimento de 7 bilhões de euros, a Alemanha tem a ambição de liderar a tecnologia de hidrogênio dentro de uma década.

No entanto, falta a infraestrutura necessária para a produção ou transporte, o que exigirá investimentos colossais.

Por outro lado, o hidrogênio não é necessariamente livre de carbono. Apenas o hidrogênio verde, feito a partir de energias renováveis, é considerado sustentável.

Ao mesmo tempo, existem outros métodos de fabricação mais comuns, mas que emitem gases de efeito estufa, pois são baseados em combustíveis fósseis.

Prova da escassez do produto é que a linha da Baixa Saxônia utilizará inicialmente o hidrogênio resultante da atividade de outras indústrias, como a química.

O instituto de pesquisa francês IFP, especializado em questões energéticas, explica que atualmente o hidrogênio “vem 95% da transformação de combustíveis fósseis”, e quase metade vem da transformação de gás natural.

Um duplo problema, pela poluição causada pelo uso do gás, e pelas dificuldades de abastecimento desta matéria-prima fóssil na Europa, em grande parte dependente do gás russo que se tornou uma arma política com a guerra na Ucrânia.

“As decisões políticas devem priorizar para qual setor vai ou não vai a produção de hidrogênio”, indicou o consultor Charpentier.

Além disso, a Alemanha terá que comprar esse recurso no exterior para suprir suas necessidades. Em agosto, Berlim assinou um acordo com Toronto para importar hidrogênio renovável produzido no Canadá a partir de 2025.

 

Fonte: Estado de Minas/AFP

 

 

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