A restrição de atividades durante o período de distanciamento social para enfrentar a pandemia de Covid-19 levou a uma redução de 45% na concentração de partículas respiráveis em uma das estações de monitoramento da qualidade do ar de Belo Horizonte, melhorando consideravelmente a condição do ar na capital mineira.
A conclusão é da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), que analisou dados de cinco estações de monitoramento em três cidades da Região Metropolitana. O estudo levou em consideração a análise dos poluentes dióxido de enxofre e material particulado em um mesmo período de 30 dias, entre 20 de março e 20 de abril, dos anos de 2019 e 2020.
De acordo com a equipe da Gerência de Monitoramento da Qualidade do Ar e
Emissões (Gesar), da Feam, a paralisação, restrição, suspensão e redução de
algumas atividades, com destaque para as atividades industriais e a circulação
de veículos, contribuiu diretamente para a redução das emissões atmosféricas.
Para verificar os níveis dessas emissões, a Gesar verificou os dados de
estações em Belo Horizonte, cujo perfil da poluição aponta para a predominância
das vias de tráfego como principal grupo das fontes emissoras, e também de
Ibirité e Betim, este último fortemente influenciado pela atividade industrial
como principal atividade poluidora.
Nos dois cenários foram verificadas reduções consideráveis no chamado material
particulado, conjunto de poluentes constituído de poeira, fumaça e todo tipo de
material sólido e líquido que se mantém em suspensão por conta do pequeno
tamanho, e também do dióxido de enxofre, que resulta da queima de combustíveis
que contém enxofre, como óleo diesel, óleo combustível industrial e gasolina.
Dados da redução
Em Belo Horizonte, essa redução chegou a 45% para o chamado PM2,5,
uma das frações do material particulado caracterizada como respirável, que tem
tamanho de até 2,5 micrômetros e penetra nos pulmões, podendo chegar aos
alvéolos pulmonares e contribuir para o agravamento de doenças respiratórias.
Essa redução foi observada na estação instalada no campus do Bairro São Gabriel da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Região Nordeste da cidade, perto de vias de grande circulação de veículos, como a MG-020 e o Anel Rodoviário. Em números absolutos, a concentração média mensal das emissões de 30 dias entre 20 de março e 20 de abril em 2019 apontou 12,44 µg/m3, diminuindo para 6,86 µg/m3 no mesmo período de 2020.
Já para o PM10, material particulado de maior diâmetro e
considerado pela ciência como inalável, a redução foi de 31% na média mensal na
estação da PUC São Gabriel. Outra estação verificada em BH foi a estação que
fica na Avenida do Contorno, no Centro da capital, próximo ao Complexo da
Lagoinha. Os dados dessa localização apontam redução de concentração média
mensal de 26% no PM2,5 e de 10% no caso do PM10.
De acordo com o presidente da Feam, Renato Teixeira Brandão, o levantamento
feito pela equipe da Gesar corrobora outros estudos que mostram a emissão
veicular como a principal fonte de poluição da capital mineira. “Conforme
esperado, a paralisação, suspensão e redução de algumas atividades, com
destaque para a redução do fluxo de veículos, contribuíram para diminuir a
concentração dos poluentes partículas inaláveis e respiráveis no munícipio de
Belo Horizonte”, afirma.
A diretora de Gestão e Monitoramento da Qualidade Ambiental da Feam, Alice
Libânia Santana Dias, acrescenta que essa constatação revela a importância de
se pensar em políticas públicas que se preocupem com a matriz de transportes da
capital. “Essa situação nos aponta para a importância de se estudar medidas de
mitigação, como o uso de meios de transporte mais sustentáveis e também o
incentivo ao transporte público de massa”, pontua a diretora.
Na avaliação do secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, Germano Vieira, “os números que apresentam a melhoria da qualidade
do ar sugerem a necessidade de reflexão sobre o impacto de cada uma das
atividades humanas na sociedade e no meio ambiente. Com certeza, é um exercício
que exige mudanças de hábito, no dia a dia”.
Atividade Industrial
Outra cidade que teve a emissão de poluentes verificada pela Feam foi Betim. De
acordo com o Relatório Técnico – Atualização do Inventário das Fontes de
Emissão de Poluentes Atmosféricos da Região de Belo Horizonte, Contagem e
Betim, de 2018, 65,46% das emissões de partículas inaláveis (PM10) tem origem
nas atividades industriais. Este número sobe para 96,69% quando se considera as
emissões dos óxidos de enxofre (SOx) na cidade da Grande BH.
Nesse caso, foram avaliados os dados das estações Petrovale e Centro Administrativo Betim. Na primeira delas, observou-se redução da concentração média diária de PM10 em todos os dias do período analisado em 2020. A concentração média mensal em 2019 foi de 22,24 µg/m3 e diminuiu para 12,58 µg/m3 em 2020, queda de 43%. Com relação ao dióxido de enxofre (SO2), também foi possível observar menores valores de concentração na média mensal em 2020, com redução de 58%. Em 2019, a concentração média mensal foi de 6,02 µg/m3 e em 2020 diminuiu para 3,82 µg/m3.
Fonte: Ascom