Semanas atrás, a Turquia abateu um caça russo que invadiu o seu espaço aéreo. Segundo o governo turco, o avião foi comunicado dez vezes antes de ser derrubado. Num período em que mínimas suspeitas podem significar ataques terroristas de grandes proporções, a medida constituiu um ato de defesa, aparentemente. A Rússia não se contentou com a justificativa, no entanto. Resultado: crise diplomática entre os dois países.

No incidente, os dois pilotos se ejetaram. Um deles acabou falecendo. Para os olhos do povo russo, um de seus filhos morreu em serviço militar. E foi abatido pela Turquia, país supostamente aliado. O presidente Vladimir Putin, pressionado, não se absteve de ficar incólume perante o ruído internacional. O Kremlin anunciou que a Rússia vai interpor medidas restritivas aos turcos, desde sanções econômicas a severas intimidações no relacionamento entre cidadãos nacionais.

As restrições abrangem, entre outras coisas, a suspensão dos voos fretados entre Rússia e Turquia, a proibição de empregar turcos em empresas russas e o restabelecimento de vistos entre os dois países a partir de 1º de janeiro de 2016. O decreto, que entrou em vigor na data de sua publicação, apenas oficializou algumas ações já informalmente aplicadas em território russo. Em outras palavras, indivíduos que nada contribuíram à crise serão os mais atingidos.

O piloto sobrevivente afirmou, em entrevista, que jamais recebeu qualquer alerta, seja por rádio ou visual. O caso gerou reação imediata do presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Ele declarou seu lamento pelo ocorrido. Por outro lado, Erdogan defendeu a atuação do exército de seu país, além de criticar a postura russa na Síria. Quem tem a razão? Há questões mal explicadas nessa história.

Guerras começam de mal-entendidos. Creio que dessa vez não seja para tanto. O caso repercutiu em vandalismo na embaixada turca na Rússia, há algumas semanas. O incidente deveria ser tratado como uma fatalidade, apesar da morte de um piloto. Não há justificativa para um episódio isolado ensejar um clima de beligerância entre dois grandes países. Destarte, a necessidade de conflito é da natureza humana. Espero que mais vidas não sejam violentadas diante de um novo ruído internacional.

 

 

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