Durante as agitadas semanas da campanha eleitoral de 2018, circulou a afirmação de que a gestão de Fernando Pimentel foi “a pior dos últimos 300 anos” de Minas Gerais. A frase é forte e com certeza contribuiu para o naufrágio prematuro da empreitada da reeleição do petista. Agora que as atenções se voltam para a formação do novo governo, vale a pena dar início às avaliações do mandato de Pimentel, e o resgate desse slogan eleitoral pode ser útil.
Escolher o pior governador, num intervalo de três séculos, é uma tarefa difícil: nem tanto pelo longo período histórico, mas principalmente pelo alto nível da concorrência nessa disputa. Parcelamentos e atrasos salariais dos servidores públicos, por exemplo, foram medidas adotadas por outros governos no passado, de forma que não seriam suficientes para garantir o infame troféu a Pimentel. Também a suspensão de serviços públicos básicos, por falta de insumos ou pagamento de fornecedores, já ocorreu em outras etapas da história mineira: durante a construção de Belo Horizonte, por exemplo, o caixa estadual foi drenado de tal forma que várias secretarias de Estado fecharam as portas.
Um fator, entretanto, coloca Pimentel em posição de destaque na história: sua falta de energia ao governar, que transmitiu a imagem de desinteresse em relação ao cargo por ele ocupado. Mesmo os piores gestores estaduais de que se tem notícia deixaram ao menos a marca do apego ao poder ou o gosto pelo exercício desse. Pimentel, não, foi nulo. Sua ausência em eventos e cerimônias oficiais foi uma constante nos últimos quatro anos, e, mesmo durante a invasão do Palácio da Liberdade por servidores da segurança pública revoltosos, nem sequer a sombra do governador petista pôde ser vista.
Considerando que a gestão de Fernando Pimentel na Prefeitura de Belo Horizonte havia sido bem avaliada, faz sentido pensar que algo mudou nesse político entre 2008 e 2014. Uma hipótese plausível, que só poderia ser comprovada pelo próprio Pimentel, é a de que este apenas encarou o governo de Minas como uma etapa transitória no caminho para um objetivo maior. Essa eventual ambição presidencial de Pimentel faz sentido se pensamos que em 2014 ainda não havia a operação Lava Jato para atingir mortalmente a imagem do PT como “o único partido honesto”; mesmo tendo sido difícil a reeleição de Dilma, havia pela frente a perspectiva de mais quatro anos de controle petista sobre a máquina federal; e, principalmente, a presidente do país era próxima de Pimentel havia décadas e se encontrava em momento de distanciamento em relação a Lula.
Cobiçar a sucessão de Dilma, portanto, não era um sonho impossível para Pimentel em 2014, de forma que o comando de um Estado central como Minas Gerais poderia parecer como uma etapa razoável nessa caminhada até o Planalto. Entretanto, a crise econômica de 2015, seguida da derrocada jurídica e política do PT, tiraram rapidamente qualquer viabilidade dessa estratégia de Pimentel.
Outra hipótese está relacionada com a dificuldade em gerenciar um governo cujo poder foi excessivamente distribuído entre lideranças políticas dos partidos apoiadores. Nesse caso, os péssimos resultados da gestão de Pimentel seriam resultado da dificuldade para se coordenar ações entre as várias instâncias do governo.
Seja qual for o motivo, o certo é que Pimentel fez por merecer um lugar de honra no panteão das decepções da história de Minas Gerais.

 

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