Era por volta de 19h40 dessa quinta-feira (1º), quando, usando um aplicativo de radiocomunicador, uma motorista de aplicativo de Passos (MG) pediu ajuda às parceiras de ofício para um fato inusitado durante uma corrida: uma passageira estava em trabalho de parto dentro do carro.
“Tá ganhando neném. O que eu faço? Só pra saber, demora uns 15 ‘minutinhos’ pra chegar na Santa Casa. E o neném… Ai, o neném saiu! Ai, meu Deus! Ai, meu Deus, como é que faz?”, exclamou a Nilza Castro pelo rádio PX.
No amparo ao parto, estava o pai da criança. E o que era para ser uma corrida comum até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) se tornou um socorro até a Santa Casa de Passos.
Depois do pedido de ajuda, o trajeto virou uma verdadeira operação. No suporte do aplicativo, Iara Chagas, uma das sócias, monitorava o veículo e passou a dar instruções.
“Nilza, acalma, acalma. Só ampara a criança. Pede a pessoa que tá do lado dela aí pra amparar a criança. Põe em cima da barriga da mãe, certo? E vá pra Santa Casa, tranquila, respira fundo, viu? Respira fundo, vai com tranquilidade pra não envolver em acidente, tá bom? Só isso. Mais nada”, orienta.
Outra motorista surge na conversa e ajuda a confirmar o destino. O suporte avisa ao hospital que em breve o veículo deve chegar. A essa altura, o bebê já havia sido recebido pelos novos papais no banco de trás do carro.
“O neném, tá tudo bem. Ela ganhou no carro. Gente, não acredito!”, volta a dizer Nilza pelo rádio.
“Nilza, já pode ficar tranquila, a maca já tá aguardando vocês na portaria. Sobe a rampa e [entra] pela portaria principal, certo? Tranquilidade, tá tudo bem, tudo tranquilo, viu?”, finaliza o suporte.
Já no hospital, a equipe médica recebeu a família e deu o atendimento necessário para o recém-nascido. O bebê ganhou o nome de Levi. Eles passaram a noite na Santa Casa de Passos.
Ao g1, a Santa Casa informou que os pais e a criança permanecem no hospital nesta sexta feira (2). A estimativa é que tenham alta apenas no sábado (3). Tanto a mãe, quanto a criança estão bem e ambos finalizam o período de recuperação no hospital.
‘Só pensei em ajudá-la’
Para a Nilza, a ficha parece que ainda não caiu. Ela, uma motorista que se dedica exclusivamente a atender passageiras mulheres, estava determinada a ajudar a mãe a chegar ao hospital a tempo.
“Foi uma sensação… Eu fiquei assim, extasiada, e ali eu só pensei em ajudá-la de alguma forma. Aí eu parei o carro, desci, fui corri e pedi ao vizinho uma toalha, um lençol, mas aí o pai gritou: ‘já tem aqui no carro’. […] E o vizinho me disse: ‘que experiência você tá vivendo!“, relatou Nilza em entrevista à EPTV, afiliada TV Globo.
Logo depois, a motorista conta que voltou ao carro e perguntou se a mãe estava bem. Ela assentiu e a condutora seguiu viagem rumo ao hospital. “O neném chorava bastante, o que é um bom sinal, né?“, comentou Nilza.
“Foi um misto de sensações. Não acreditava que aquilo estava acontecendo. Pensar que uma mãe chamou um aplicativo de mulheres, numa situação assim é muito mais confortável do que se fosse um motorista homem, poderia ela ficar constrangida. Mas não, fui eu, com apoio das minhas colegas e correu tudo bem“, completou a motorista de aplicativo.
Emoção compartilhada
Foram 8 minutos até que o carro chegasse aos pais. Depois disso, mais 10 minutos até a Santa Casa. Em menos de 20 minutos, o bebê veio ao mundo.
A emoção foi compartilhada com diversas outras motoristas e clientes que rodavam naquele momento.
“Nós temos um radiocomunicador, um PX, onde a motorista pediu apoio via rádio e relatou que estava nascendo o bebê. Esse rádio, todas as demais motoristas escutam em tempo real, foi uma coisa emocionante”, contou ao g1, Rute Thiago Leandro, uma das proprietárias do app.
Fonte: G1 Sul de Minas