No Dia das Mães, o gaúcho André Luis Hack Bahi, de 43 anos, aproveitou um tempo de folga e foi ao grupo de WhatsApp da família dizer que já havia realizado dois dos seus maiores sonhos.
Como odiava o frio, um deles era morar em um lugar quente. Realizou o desejo ao morar no Ceará. O segundo era atuar em uma guerra.
Concretizou o sonho atuando como voluntário na guerra da Ucrânia. Em seguida, em uma sequência de três mensagens, ele lembrou uma redação dos tempos de escola.
“O título era ‘QUAL SEU SONHO’. Eu disse: morrer na guerra. Então, com a situação que me encontro, não sei dizer. Mas não tenho medo”, afirmou André.
Menos de um mês depois, foi confirmada sua morte na guerra na Ucrânia.
André estava desaparecido, mas, segundo brasileiros que estão no país, ele foi morto em combate por forças russas. O Itamaraty anunciou em nota divulgada à imprensa nesta quinta-feira (9) que André de fato foi uma das vítimas do conflito.
“O Ministério das Relações Exteriores recebeu, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, confirmação do falecimento de nacional brasileiro em território ucraniano em decorrência do conflito naquele país e mantém contato com familiares para prestar-lhes toda a assistência cabível, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local”, disse o Itamaraty em nota.
“Mais informações poderão ser repassadas somente mediante autorização dos envolvidos ou de seus familiares diretos.”
A pasta reforçou ainda que “assim como tem feito desde o começo do conflito, o Itamaraty continua a desaconselhar enfaticamente deslocamentos de brasileiros à Ucrânia, enquanto não houver condições de segurança suficientes no país”.
Caçula apaixonado por brinquedos de guerra
André nasceu em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Foi o caçula e o único homem entre quatro filhos. Uma de suas irmãs, Letícia Hack, lembrou, em entrevista à BBC News Brasil, que, desde pequeno, ele demonstrava interesse pela temática bélica.
“Ele era apaixonado por assuntos de guerra. Quando era pequeno, ele adorava uns bonecos pequenos de soldado. Essa paixão continuou conforme ele cresceu”, explicou.
Letícia contou que André chegou a servir no Exército quando jovem. Depois de cumprir seu período no quartel, ele se formou como enfermeiro, mas logo encontrou uma forma de continuar no meio militar.
O apego de André pelo tema era visível em suas redes sociais. Em seu perfil no Instagram, há diversas fotos dele utilizando fardas e empunhando armas.
Segundo Letícia, André se alistou na Legião Estrangeira, um grupo militar sediado na França que envia combatentes para diferentes partes do mundo. Ainda de acordo com a irmã, teria participado de combates na Costa do Marfim, onde foi ferido, em 2017.
“A gente tentou convencer ele a desistir dessa ideia de guerra, mas ele sempre foi apaixonado por isso. Era o que ele queria fazer da vida”, diz Letícia.
A Legião com sede na França não está envolvida no conflito da Ucrânia, mas grupos de combatentes voluntários estrangeiros têm se deslocado para o país desde o início da guerra, em fevereiro.
A irmã de André contou que a família acompanhava com tensão sua presença no conflito. Segundo ela, o irmão mantinha contato por aplicativos de mensagens e enviava vídeos e fotos das atrocidades que encontrava na área de combate.
“Ele ficava muito indignado. Dizia que era um absurdo o que estava acontecendo. Ele sempre mandava vídeos e fotos pra gente. O que ele mandou sobre Bucha foi horrível”, disse Letícia, em referência à cidade ucraniana onde, segundo o governo do país, forças russas teriam massacrado militares e civis. Os russos negam as acusações.
Fonte: Estado de Minas
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