A China disparou nesta quinta-feira (4) mísseis balísticos e deslocou aviões e navios de guerra ao redor de Taiwan, na primeira jornada das maiores manobras militares do país em décadas nas proximidades da ilha para protestar contra a visita ao local da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.

Apesar das advertências de Pequim, que considera Taiwan parte de seu território, Pelosi, segunda na linha de sucessão presidencial, fez uma visita relâmpago a Taipé, durante a qual afirmou que os Estados Unidos “não abandonarão” a ilha.

A China considerou a iniciativa da congressista americana uma provocação e prometeu punir os que a ofenderam, anunciando manobras militares nas águas próximas de Taiwan, que incluem algumas das rotas marítimas mais movimentadas do mundo

As manobras, que começaram ao meio-dia local (1h00 de Brasília), incluíram “disparos de mísseis convencionais” contra as águas da costa leste de Taiwan, afirmou Shi Yi, porta-voz militar da China.

“Todos os mísseis atingiram o alvo com precisão”, acrescentou o coronel Shi.

O ministério taiwanês da Defesa confirmou que exército chinês disparou “11 mísseis” balísticos do tipo Dongfeng “entre 13h56 e 16h00 nas águas do norte, sul e leste de Taiwan”.

“São ações irracionais que minam a paz regional”, criticou o ministério, que não revelou se os projéteis sobrevoaram a ilha.

– Manobras “sem precedentes” -Em Pingtan, uma ilha chinesa próxima da área de manobras, correspondentes da AFP observaram vários projéteis, seguidos de uma coluna de fumaça branca.

Na mesma zona, a mais próxima de Taiwan, também foram observados cinco helicópteros militares perto de um ponto turístico.

As manobras militares chinesas devem ser concluídas no domingo (7).

De acordo com o jornal chinês Global Times, que cita analistas militares, as operações têm uma dimensão “sem precedentes”, porque os mísseis devem sobrevoar Taiwan pela primeira vez.

Pequim defendeu os exercícios, assim como outras manobras executadas nos últimos dias, como “justos e necessários”, ao mesmo tempo que culpou Washington e seus aliados pela escalada.

Em relação à “visita de Pelosi a Taiwan, os Estados Unidos são o provocador, a China é a vítima”, declarou a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying.

Uma fonte militar chinesa disse à AFP que os exercícios acontecem “em preparação para um combate real”.

“Se as forças taiwanesas entrarem em contato com o EPL (Exército Popular de Libertação) e acidentalmente dispararem uma arma, o EPL adotará medidas severas e todas as consequências acontecerão do lado taiwanês”, acrescentou a fonte.

– Bloquear a ilha -Os exercício buscam simular um “bloqueio” da ilha e incluem o “ataque a alvos no mar, o ataque a alvos em terra e o controle do espaço aéreo”, segundo a agência oficial Xinhua.

As autoridades da ilha criticaram as manobras como um “ato irracional que deseja desafiar a ordem internacional”.

A hipótese de uma invasão de Taiwan, com 23 milhões de habitantes, é pouco provável. Mas, desde a eleição em 2016 da atual presidente, Tsai Ing-wen, as ameaças são cada vez maiores.

E a ameaça aumentou durante o governo do presidente chinês Xi Jinping.

Tsai, que pertence a um partido independentista, ao contrário do governo anterior, se nega a reconhecer que a ilha e a parte continental integrem “uma só China”.

Nos últimos anos, as visitas a Taipé de autoridades e congressistas estrangeiros aumentaram, o que irrita Pequim.

Como resposta, a China tenta isolar Taiwan no campo diplomático e aumenta a pressão militar contra a ilha.

Analistas, no entanto, afirmaram à AFP que a China não pretende agravar a situação além de seu controle, ao menos no momento.

“A última coisa que Xi deseja é a explosão de uma guerra acidental”, afirmou Titus Chen, professor associado de Ciências Políticas na Universidade Nacional Sun Yat-Sen de Taiwan.

Mas para Amanda Hsiao, especialista em China do International Crisis Group, “o anúncio dos exercícios militares chineses representa uma clara escalada da atual base de atividades militares chinesas ao redor de Taiwan e da última crise no Estreito de Taiwan de 1995-1996″”.

“Agindo desta maneira, Pequim mostra que rejeita qualquer soberania das autoridades taiwanesas”, acrescenta.

 

 

Fonte: Itatiaia/AFP

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