Com diálogos mínimos e trilha sonora no máximo, o filme em preto e branco Control narra a curta vida de Ian Curtis, enquanto ele se equilibrava entre a banda britânica Joy Division, sua mulher Debbie e sua amante Annick.
Control, que será exibido hoje na 31ª Mostra Internacional de São Paulo, tem direção do fotógrafo holandês Anton Corbijn, especializado em música e responsável pelas fotos mais famosas do Joy Division, também em preto e branco.
Esta é sua estréia em longa de ficção, embora já tenha rodado videoclipes do Depeche Mode, Johnny Cash, U2 e Nirvana.
O Joy Division foi formado em Manchester, no final dos anos 1970, em meio a shows de David Bowie, Sex Pistols e Buzzcoks, referências presentes no filme. Com a morte do vocalista, aos 23 anos, a banda deu origem ao New Order.
O papel principal é do ator desconhecido Sam Riley, que é também cantor e guarda uma estranha semelhança com Curtis, inclusive quando dança no palco, em um transe mais parecido com seus ataques epiléticos.
A importância que as mulheres ganham neste filme – Debbie e Annick – pode frustrar os fãs mais interessados em histórias do grupo, conhecido por sucessos como Love Will Tear Us Apart e Transmission.
Mas a resposta para esta ótica feminina pode estar no fato de o roteiro ser baseado no livro da própria Debbie, que também assina a co-produção. Os dois se casaram muito jovens e tiveram uma filha, a qual ele ignora solenemente no filme.
E, mesmo afirmando seu amor pela jornalista amadora Annick Honoré, Curtis não consegue ficar longe de Debbie. Ao saber da amante, ela ameaça com o divórcio, mas ele pede para ela desistir.
Entre as dúvidas do coração, o sucesso estressante da banda e os constantes ataques epiléticos, Curtis se enforca na cozinha de sua casa, um dia antes do embarque do Joy Division para a primeira turnê nos Estados Unidos, em 1980.
Somando tudo isso, o péssimo marido com o abandono da banda em pleno auge, o filme desconstrói o mito Ian Curtis, um jovem um tanto depressivo e egoísta, até hoje cultuado e referência para bandas novas como Interpol, She Wants Revenge, The Killers e muitas outras.
Control também passa longe do estereótipo sexo, drogas e rock and roll. Curtis, de fato, carrega na mochila seus vidros de remédios, mas para tentar conter sua epilepsia. E a única cena de sexo se passa debaixo do cobertor e termina com Curtis chorando, talvez atravessado pela culpa da traição.
O filme foi exibido no Festival de Cinema de Cannes deste ano, em maio, um dia antes do aniversário de 27 anos da morte de Curtis. O baterista Stephen Morris contou aos jornalistas no festival como se sentiu quando soube que Curtis se enforcara: Acho que foi um choque, mas o que eu senti foi muita raiva – raiva por ele ter sido tão estúpido.
Quando uma pessoa comete suicídio, deixa um monte de perguntas sem resposta para as pessoas que sobram e as fere muito mais, completou.

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