Dezenas de perguntas que poderiam ajudar a nortear a comunidade médica no tratamento mais eficaz de doenças como a febre amarela e a infecção pelo zika vírus podem ficar sem respostas por falta de recursos para investimento em pesquisas científicas no Estado. Somente na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Minas, ao menos quatro estudos que tinham o objetivo de decifrar essas enfermidades foram engavetados por tempo indeterminado em função do corte de verbas anunciado em fevereiro pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Segundo a secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Minas, Adelina Martha dos Reis, os cortes atingem instituições de todo o Estado e inviabilizam o andamento de ao menos 1.126 projetos aprovados no ano passado em várias áreas do conhecimento, que deixaram de receber cerca de R$ 44 milhões. Também houve corte de mais de 5 mil bolsas de iniciação científica.

Apenas na Fiocruz Minas, o corte de recursos da fundação afetou diretamente 66 projetos de pesquisa na área de saúde aprovados em 2018, os quais deixaram de receber R$4,5 milhões.

“Nunca vi uma situação tão grave. É quase desesperador”, lamenta Olindo Assis Martins Filho, pesquisador titular da Fiocruz Minas, que está com dois estudos parados por falta de recursos. Em um deles, o farmacêutico bioquímico pretendia verificar a resposta imunológica de pessoas infectadas pelo zika vírus. Segundo ele, o trabalho poderia “auxiliar no manejo clínico de pacientes”. Outra proposta do estudioso era conseguir identificar precocemente sinais que indicassem a possibilidade de desenvolvimento tardio de hepatite em pacientes com diagnóstico de febre amarela.

A vice-diretora de Ensino, Comunicação e Informação da Fiocruz, Cristiana Ferreira, diz que o cenário é crítico: “Todos os nossos projetos são voltados para a saúde da população, mas vamos ficar estagnados”.

Por meio de nota, a Fapemig afirma que não há previsão para que os repasses sejam normalizados e informa que enfrenta dificuldades em honrar com os repasses devido à crise fiscal que o Estado enfrenta.

‘Enquanto isso, pessoas morrem’

A comunidade científica se mostra temerosa quanto ao futuro das pesquisas em Minas. Para a secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Minas Gerais, Adelina Martha dos Reis, é preciso mais critério por parte do governo estadual para definir em que setores serão feitos cortes de gastos. “Minas Gerais está matando o futuro ao não investir em pesquisa”, critica.

Adelina destaca que a falta de dinheiro para as entidades que desenvolvem pesquisas científicas vai impactar diretamente a saúde da população. “É um problema muito sério, porque Minas é um Estado fortemente afetado por zika, dengue e chikungunya”, observa.

A pesquisadora afirma que o Estado é reconhecido e respeitado internacionalmente por seu trabalho científico, mas teme que, sem os recursos financeiros, fique difícil descobrir novos medicamentos. “Enquanto isso, as pessoas estão morrendo”, diz.

Cristiana Ferreira, vice-diretora de Ensino, Comunicação e Informação da Fiocruz Minas, também condena o corte de recursos para as pesquisas na área da saúde. “A gente tem um lema que é muito importante: “Não é gasto com saúde, é investimento”, defende.

“Nada se compara com o que nós estamos vivendo agora. O que vamos fazer?”, questiona o pesquisador Olinto Martins Filho, que lamenta o fato de cientistas não encontrarem apoio para o desenvolvimento tecnológico.

Discussão

A falta de perspectiva quanto à retomada do ritmo de trabalho nas instituições que desenvolvem pesquisas em Minas será tema de uma audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia mineira, nesta quarta-feira (3).

Pedido

O encontro é resultado da união de pesquisadores, que pedem providências para reverter a crise que provoca o corte de repasses pela Fapemig.

Movimento

“Estamos fazendo uma mobilização enorme para tentar reverter a falta de recursos para a pesquisa no Estado e levar a questão para os deputados, que têm o poder de tentar mudar o quadro e defender esse repasse para a ciência”, explica a vice-diretora de Ensino, Comunicação e Informação da Fiocruz, Cristiana Ferreira.

 

 

Fonte: O Tempo ||

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