O que vale mais? Vagner Love no Palmeiras ou no CSKA? Carlos Eduardo no Grêmio ou no Hoffenheim? Ramires no Cruzeiro ou no Benfica? A saber: no Palmeiras, Love valia 5 milhões de euros e no CSKA vale 30 milhões de euros. Carlos Eduardo, no Grêmio 8 milhões de euros e no Hoffenheim 33 milhões de euros. E Ramires, jogador da seleção que mais lucra com patrocínio e imagem no mundo, valia 4 milhões no Cruzeiro e 20 milhões no Benfica.
Para tentar solucionar tal disparate, basta entender que quem dita o valor e as regras é o dono dos direitos federativos do jogador, o clube, e não o mercado. Por mais estranha que soe a afirmação, significa dizer que o valor de um jogador está atrelado à vontade e à necessidade de sua venda. Dessa maneira, quanto mais forte economicamente estiver o clube (ou seu dono) mais difícil o jogador sair por dinheiro. Por quê?
Porque simplesmente aquele que é o detentor desses direitos não precisa vender seu atleta para fazer dinheiro. Assim, projeta-se um valor agregado; aquilo que se pode lucrar por meio de contratos publicitários, direitos de imagem, renegociações de direitos de TV, cotas de amistosos, torneios no exterior, participação dos clubes em patrocínios individuais. E aí está a resposta para a grande diferença: se o time europeu estabelece um valor baseado em marketing, licenciamento de produtos, etc., o brasileiro ainda tem na venda, e só nela, sua grande fonte de renda.
Como mudar tudo isso? Havendo uma ruptura total com o sistema. O europeu deve saber que não virá mais pechinchar na colônia e o empresário deve abrir mão de seu percentual na venda de seu cliente. Querendo ou não, o Santos deu um grande passo em direção a tal realidade. Sabedor do real valor de seu jogador, não aceitou apenas os 60% da venda a que tinha direito – tentando, é preciso dizer, corrigir um equívoco de administrações passadas, nas quais era comum, para saldar dívidas, a venda de percentuais de suas jovens promessas em troca de dinheiro imediato.
Independentemente das razões do Santos, fato é que o clube respeitou sua tradição como marca. Pode-se afirmar, sem receio, que não há comparação entre Santos e Chelsea. Este último é um time rico, porém infinitamente menor que o Santos. Prova disso é que há algumas décadas um jogador como Neymar nunca iria para esse clube e sim para os grandes europeus, como Arsenal, Liverpool, Real Madrid, Barcelona, Milan, Juventus, ou seja, de um grande para outro grande. E não de um grande para um rico. Vestir a camisa de um jogador, como se fala, é contextualizá-lo do momento sócio econômico e cultural que está inserido. É importante que se respeite não só sua vontade, mas também orientá-lo de seu real valor de mercado.
Com Neymar, o Santos vai ganhar em visibilidade com a internet e TVs a cabo, qualquer jogo do Santos é visto em qualquer parte do mundo. Se um jogador de ponta quiser jogar na Europa, que vá. Mas que siga seu sonho de menino e vá jogar em um grande clube. É inconcebível que jogadores como Ricardo, zagueiro do Porto, valham 30 milhões de euros e Neymar também. O Santos deu um passo para que os clubes brasileiros compreendam a incontestável e necessária profissionalização de um departamento de marketing. Sua independência e força dará suporte aos departamentos de futebol. Cabe a dica aos clubes: com tal profissionalização, não haverá mais pressa em vender jogador, venda prematura de percentuais de partes dos direitos de seus jovens talentos ainda na base e muito menos interferência de empresários.

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