O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o número de desempregados no primeiro trimestre de 2018 atingiu a marca de 13,7 milhões, com o crescimento de 13,1% na taxa de desemprego.
Neste cenário, os demais agentes econômicos (governo, bancos e empresas) vivem um momento econômico de indiferença, com o governo não aceitando fazer reformas tributárias para diminuir os impostos e estimular o emprego, com os bancos praticando alto spread (diferença entre a captação e a aplicação de recursos) e as empresas divulgando balanços com lucros recordes.
É preciso lembrar, e a história recente mostra que atitudes de enfretamento dos altos spreads geram resultados positivos para todos.
Em 2009 o mundo vivia a maior crise econômica desde o ano de 1929, devido à crise hipotecária nos Estados Unidos, com reflexos no mundo todo. Os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão adotaram políticas de estímulo, com juros próximos de 0%.
O Brasil não ficou indiferente ao momento econômico mundial e teve que adotar ações para estimular o mercado interno e se proteger das turbulências do mercado externo.
Em 2009, os índices de inflação no Brasil estavam por volta de 4,5 %.
Os bancos, como agora em 2018, praticavam spreads altíssimos. A inflexão dos agentes bancários era nítida. O governo federal convocou os bancos públicos para exercerem o seu papel, no interesse público, de serem agentes estimuladores de crédito mais barato. Inicialmente houve resistência, inclusive com demissão de um dos presidentes de banco público, mas rapidamente estes bancos divulgaram a diminuição dos juros e o aumento das linhas de crédito. Os bancos privados rapidamente reagiram e adotaram a mesma prática, com receio de perderem espaço no mercado bancário.
O resultado, quem viveu em 2009 já sabe, foi uma explosão da economia, com o aquecimento de todos os setores econômicos.
A revista Exame, edição 945, de 17 de junho de 2009, na página 12, estampava a notícia: “O Brasil finalmente começa a se livrar da pecha de campeão dos juros altos – e a queda das taxas por um período prolongado deve trazer profundas transformações na economia”. Já na reportagem com o título “O que vamos ganhar com o juro baixo”, páginas 20 a 29, são apresentados diversos prognósticos advindos da queda dos juros e do spread baixo, como o aumento no consumo, oferta de mais imóveis, expansão do mercado de capitais.
As reportagens da revista Exame não são fatos isolados. Também a revista “América Economia”, número 380, de outubro de 2009, página 27, afirma que “A agitação voltou à Rua São Bento, no centro velho da cidade de São Paulo. Ela é conhecida pela concentração de financeiras – empresas que se dedicam a emprestar dinheiro a consumidores de menor renda e com pouco acesso ao crédito. Para capturar a freguesia vale tudo, especialmente contratar promotores de venda que praticamente agarram os transeuntes para oferecer empréstimos”.
Assim, a diminuição do spread, impulsionada pelos bancos públicos, gerou efeito positivo em toda economia, com um ciclo virtuoso de crescimento, atingindo todos os setores, seja no aumento do consumo de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, explosão do consumo de automóveis, aumento da procura de imóveis, o governo passou a ter superátivs sucessivos, queda do desemprego e aumento da formalização no mercado de trabalho.
Por consequência, em 2010, o Brasil cresceu 7,5% e todas as classes sociais foram beneficiadas pelo crescimento econômico, atingimos o pleno emprego.
É verdade que os momentos históricos e econômicos em 2018 e 2009 são diferentes, mas as comparações são necessárias e importantes para nossas reflexões.
Já agora, em 2018, presenciamos a diminuição da taxa de juros, mas sem a economia real ter os reflexos desta diminuição, devido à prática de spreads altíssimos pelos bancos, inclusive os públicos, fruto da falta de visão e omissão dos políticos administradores deste país.
Sempre afirmo. Qualquer pessoa pode ir a um banco comercial fazer uma aplicação hoje e lhe será oferecida uma taxa de juros de no máximo 7% a 8% ao ano. Logo a seguir, neste mesmo dia, esta mesma pessoa se fizer um pedido de empréstimo, lhe será oferecido crédito com custo anual acima dos 100%, proveniente da cobrança de juros, tarifas, impostos e seguro. É um acinte, isto é um absurdo, uma falta de respeito, uma verdadeira agiotagem com respaldo dos órgãos reguladores oficiais.
Para nosso estarrecimento, os bancos ainda adotam ações para diminuição de custos, todas geradoras de mais desemprego, em busca de mais eficiência operacional. Por exemplo, o Bradesco, com lucro registrado em 2017 de R$19 bilhões, estuda fechar em 2018 cerca de 200 agências.
Os poucos bancos brasileiros podem até comemorar os lucros bilionários, diferente do restante da sociedade que não tem tanto a celebrar, pois o governo tem déficits fiscais persistentes, o comércio amarga o baixo consumo e os trabalhadores puderam apenas reivindicar mais empregos no dia 1º de maio.

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