“Paciente contou que na cidade dela, interior de Minas, tem médico fazendo ‘desvacinação’. Isso mesmo.O foco é gente rica que foi obrigada a se vacinar pra viajar pra fora”. O relato apareceu no consultório da médica Júlia Rocha, que compartilhou a denúncia em seu perfil no Twitter.
A receita para reverter o efeito da vacina contra Covid-19 seria uma alta dosagem de vitamina D3, 100.000 UI por dia, durante três dias, mais uso de ivermectina. Porém, segundo especialistas ouvidos pelo portal O Tempo, a promessa é falsa. “Isso simplesmente não existe. Não existe qualquer evidência de que algo assim possa anular o efeito da vacina. É puro charlatanismo”, afirma Júlia. A médica explica que a resposta imunológica é gravada como uma memória das células de defesa, sendo, portanto, impossível reverter.
“O que pode ocorrer é que com o tempo a gente venha a precisar de doses de reforço. As novas doses funcionam como um novo estímulo ao sistema imune para que ele se mantenha capaz de reagir de forma eficiente caso ele detecte a presença do vírus. Um outro ponto são as mutações que podem fazer com que o vírus escape da imunidade conferida pela vacina, mas esta história de desvacinar simplesmente não existe”, afirma a médica.
O infectologista Estevão Urbano também rejeita a hipótese. “É um procedimento absolutamente sem qualquer embasamento científico, que não tem qualquer reação sobre a ação da vacina. E se tivesse seria péssimo. Porque as pessoas estariam voltando ao estágio de não vacinação que é o grande problema ”, afirma o médico.
Urbano destaca que esta é só mais uma informação falsa de remédio que não funciona e ressalta a importância da vacinação no controle da pandemia. “Se a gente comparar os índices de morte antes e depois da vacinação, vamos ver que a vacina salvou aí milhões de pessoas”, comenta.
Alerta de riscos
Para os especialistas, além de não ter efeito reverso para a vacina, a alta dosagem de vitamina e qualquer outro medicamento pode trazer sérios riscos à saúde. “A ivermectina pode gerar comprometimento do fígado a depender da dose e da frequência de uso”, adverte Júlia.
A médica explica que a dose de vitamina D considerada tolerável para adultos saudáveis é de cerca de 4.000 UI por dia, mesmo assim, com o paciente sendo monitorado de perto. “Os relatos documentados mostram que mais de 60.000 UI diárias podem ocorrer aumento das taxas de cálcio no sangue, confusão mental, entre outras coisas. Se esse uso se mantém por muitos dias, os riscos aumentam ainda mais”, alerta a profissional de saúde.
“Há que se considerar que, quando há uma doença a ser tratada, muitas vezes nos mantemos a prescrição mesmo sabendo da possibilidade de reação adversa porque o risco de obter aquele benefício valendo risco de alguma possível reação. Mas quando se toma uma medição desta sem nenhuma necessidade, o que sobra é o risco de dano à saúde”, ressalta Rocha.
Estevão Urbano destaca ainda que, do ponto de vista médico, a prescrição de tratamentos sem embasamento científico é proibida.“Se isso for escrito por médico, com carimbo e com esse objetivo pode gerar até processo disciplinar no conselho regulador da profissão”, afirma Urbano.
Fonte: O Tempo