Busca do corpo perfeito que termina em deformação e até risco de morte pelas mãos de quem não tem licença para atuar na área e ainda com uso de produtos impróprios. Foram presas em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, duas mulheres suspeitas de aplicar silicone industrial, proibido para esse fim, em mulheres que agendaram o procedimento em um grupo de aplicativo de mensagens denominado “Filhas do bumbum”.

As suspeitas de 34 e 41 anos teriam feito pelo menos 100 vítimas, de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e até vindas do exterior. Elas realizavam os procedimentos em um salão de beleza. Nenhuma das “mães do bumbum” é profissional de medicina, os únicos com licença para fazer procedimentos invasivos, que por si só já implicam riscos e exigem cuidado e planejamento (leia entrevista). Em outra ocorrência, na segunda-feira, uma mulher de 48 anos morreu durante cirurgia para a redução de mama em uma clínica no Barro Preto, na Região Centro-Sul de BH. Ontem, o espaço, que não tinha alvará para realizar esse tipo de procedimento, foi fechado.

O flagrante envolvendo o uso de silicone industrial foi feito no dia 6, no momento em que era realizada a aplicação do produto, impróprio para esse fim, nas nádegas de uma das vítimas. “Fizemos um serviço de campana. Não era qualquer pessoa que conseguia entrar. Não era só tocar campainha e entrar. No momento em que houve a abertura da porta do salão, a gente entrou e identificou uma cliente que estava aguardando para passar pelo procedimento”, disse em coletiva de imprensa, o delegado de Polícia Civil Rodrigo Bustamante, chefe do 2º Departamento de Polícia Civil Regional.

Os levantamentos apontam que a aplicação do silicone industrial – produto utilizado na limpeza de carros, impermeabilização de azulejos e vedação de vidros. “As suspeitas diziam que os procedimentos eram feitos com hidrogel, mas, na verdade, elas usavam o silicone industrial”, contou.

Segundo as investigações, uma das mulheres cobrava cerca de R$ 4 mil por cada aplicação e saía do Rio de Janeiro para fazer as aplicações em Belo Horizonte. A outra seria a responsável por captar clientes, com comissão de 10% do total do tratamento. Pelo retoque, era cobrado mais R$ 1 mil. “Por meio de um aplicativo de mensagens, ela mantinha uma rotina de agendamento de clientes. “Não eram fatos isolados e não ocorriam apenas aqui. Ela praticava esse exercício ilegal da profissão também no Rio de Janeiro”, disse.


A investigação começou depois de quase 10 vítimas irem até uma delegacia com deformidades no corpo e processo inflamatório. Segundo o delegado Luciano Guimarães, também à frente das investigações, os procedimentos eram feitos dentro do salão de beleza, sobre uma maca, em um local inadequado e sem assepsia. “Se houvesse alguma intercorrência, não haveria nem como socorrer”, disse. Ele explicou que a esteticista fazia uma espécie de torniquete nas coxas das clientes, aplicava a anestesia, furava as nádegas e depois aplicava o silicone industrial. A abertura era fechada com cola de secagem. “Como o produto provoca processo inflamatório, o corpo começa a expeli-lo de alguma forma. Então forma-se um buraco nas nádegas”, explicou.

Silicone industrial
Segundo o delegado, o produto era acondicionado em embalagens com rótulos de uma substância conhecida como hidrogel, que teve o registro suspenso em 2014 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência também proíbe o uso de silicone industrial na utilização de procedimentos estéticos. “No entanto, em exames no Instituto de Criminalística, foi comprovado de que se tratava de silicone industrial. Mas, “essas pessoas corriam o risco de sua integridade física.

Uma das consequências da aplicação de silicone industrial é a embolia pulmonar, que pode causar a morte, além das lesões”, explica Bustamante. O delegado Luciano Guimarães disse que no local foram apreendidos materiais cirúrgicos, seringas, ampolas, anestésicos e diversos antibióticos. “Um verdadeiro centro cirúrgico foi montado para a realização desse procedimento estético”, informou.

Até 100 mulheres teriam sido atendidas pela suspeita. “Uma das vítimas é uma mulher do Rio de Janeiro que mora em Portugal, veio ao Brasil e se submeteu a uma intervenção com ela. Ela está buscando tratamento, mas são poucos cirurgiões plásticos que fazem esse procedimento para retirar o produto. E cobram cerca de R$ 28 mil.” Ela pode responder por exercício ilegal da profissão, estelionato e manuseio de produtos sem autorização. Se condenada, pode pegar de 10 a 15 anos de prisão.

 

Fonte: Estado de Minas||
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