Ao nos depararmos com as esfarrapadas falas de gestores públicos federais, em especial dos tais dirigentes das agências reguladoras, do Operador Nacional do Sistema, dos senadores, deputados federais, ministros e de tantos outros que agora, de alguma forma bem dissimulada, tentam incutir na cabeça da população brasileira que a culpa é de São Pedro e não deles. Assim agem porque finalmente perceberam o que grande parcela da sociedade civil mineira, há mais de dois anos, já os vinha alertando sobre da chegada do apagão que, todos sabemos, vem aí.  E a indignação, mais uma vez, toma conta de todos nós que conhecemos e bem, o que se esconde por detrás da cantilena que eles insistem em propagar.

Faltam ainda muitos “Joaquins”, apelido carinhoso daqueles  que em dezenas de reuniões transformaram, de um lado, os tais grupos de trabalho em meros muros de lamentação  onde, em coro, eles diziam concordar com o que lhes era apontado como causa dos males que há mais de década ceifa empregos, renda e sossego de milhões de mineiros e, de outro, eles  como defensores incansáveis do uso múltiplo das  águas, desde que isto se dê em favor da turma que delas se beneficia a jusante da barragem, notadamente nos estados de São Paulo e Paraná,  para que agora, unidos e em defesa de seus interesses, venham em coro, defender junto à grande imprensa, o tal desemprego que, segundo dizem, já ronda os trabalhadores na hidrovia Tietê/Paraná.

A manchete que chegou às nossas mãos na manhã de hoje, informa que a tal hidrovia está operando com apenas 2.20 metros de profundidade e que nestas condições, cerca de 30 embarcações estão ancoradas no porto intermodal de Pederneiras, desde junho.  Acrescenta a reportagem que a hidrovia que possui cerca de 2,4 mil quilômetros de extensão já coloca em risco a logística do agronegócio assim como o escoamento de grãos. Frisa também o autor que, 90% das barcaças já estão paradas e que 80% dos funcionários do setor já foram demitidos.

Pois bem, isto nada mais é que a resultante da burrice, da teimosia e do destempero dos ilustres senhores gestores, que fizeram ouvidos moucos ao grito de milhares de mineiros, enquanto eles, os senhores gestores, acostumados apenas a seguir os “programas” por eles mesmos criados para, repetidamente nas infindáveis reuniões, provarem por A + B que eles estavam corretos quando determinavam que toda a água que poderia estar armazenada, se escoasse rio abaixo, gerando ou não, energia. Tudo em nome da economia (diminuição de custos) por eles ditada, evitando a geração através de outras fontes, segundo eles, onerosas (via-termoelétricas).  Será que eles, tão ilustres e competentes, não sabiam mesmo que a função principal de um reservatório é a de reservar, armazenar, guardar, neste caso a água, para se usar em casos de grande período de seca, como o atual?

Se economizaram antes, deixando de se valer das termos (energia mais cara) em alguns meses dos últimos anos, quando pagaremos por ela agora, e o que é pior, assistindo as reservas chegarem ao volume morto?

E por que garantiram os tais empregos e a geração de lucro durante tanto tempo lá na área de influência da hidrovia, se com tal atuação, mataram para cada emprego ali preservado, por baixo, mais de 50 ou quem sabe 100, aqui nas terras mineiras com a quebra e o fechamento de empresas das mais diversas atividades, todas, dependentes da água, e que ficaram a mercê de tais decisões comprovadamente, equivocadas?

Que agora, queiram ou não, terão que paralisar de vez a tal hidrovia, pois, não é difícil saber que o ministro Tarcísio estava mais que correto quando afirmou que, aqui pelas bandas de Furnas, a “escolha de Sofia” é inevitável: ou deixamos de gerar energia ou fechamos o ralo da hidrovia.

A verdade é que a incompetência de alguns, a ganância de outros e a inércia de governos, colocou em risco energético todo o país.  É lamentável, mas estes caras, os que mandam e desmandam nas nossas águas, até mesmo com o poder de contrariarem o que dita a nossa emenda 106, em vigor na Constituição Mineira, resultou no que aí está.

Além da pandemia este Brasil tem que frear seu ímpeto de crescimento, que às duras penas, parece ressurgir! E o povo, manso e enganado por tantos, continua pagando o pato!

Editorial do Jornal Nova Imprensa

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