Após protestos perto do Palácio Carondelet, o presidente do Equador, Lenín Moreno, decidiu mudar a sede do governo da capital Quito para a cidade costeira de Guayaquil. O anúncio foi feito em pronunciamento por rádio e televisão, já transmitido da cidade costeira, nessa segunda-feira (7).

O país enfrenta uma onda de protestos desde a disparada do preço dos combustíveis, que foi provocada pelo fim dos subsídios decretado pelo governo. A medida atende a um acordo assinado com o FMI para a concessão de um empréstimo de US$4,2 bilhões.

O Equador decretou estado de exceção na última quinta-feira (3), o que permite o envio de militares para controlar os protestos. As manifestações já deixaram um civil morto, 73 feridos (incluindo 59 agentes de segurança) e 477 detidos (a maioria por vandalismo), de acordo com as autoridades, citadas pela France Presse.

Durante o pronunciamento nesta segunda, Moreno reiterou que não voltará atrás nos ajustes econômicos. Ele disse que seu antecessor, Rafael Correa, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, querem desestabilizar seu governo. “O déspota do Maduro ativou com Correa seu plano de desestabilização”, declarou. O ex-presidente equatoriano, que governou entre 2007 e 2017, está atualmente na Bélgica.

Moreno foi eleito em 2017 pelo partido de esquerda Aliança País e foi apoiado por Correa.

Situação em Quito

Um pouco mais cedo, o governo esvaziou o quase sitiado Palácio Carondelet, na capital equatoriana. Todos os funcionários e jornalistas que cobrem o Executivo deixaram o complexo.

Pouco antes da meia-noite, houve novos confrontos entre a polícia e os manifestantes nos arredores do palácio presidencial. O Congresso do Equador informou também que manifestantes tentaram ocupar a sede da Assembleia Nacional, em Quito.

Comunicado divulgado pela Congresso afirmou que “rechaça categoricamente os atos de vandalismo protagonizados nas imediações do Palácio Legislativo, com intenção de tomar a sede do Parlamento” .

Os protestos tiveram a participação de grupos de esquerda, sindicalistas e jovens de diferentes afiliações políticas de oposição.

Mobilização indígena

Em 16 das 24 províncias equatorianas foram registrados bloqueios nas estradas nesta segunda, de acordo com um relatório do Serviço de Segurança Integrado ECU 911.

Indígenas se unem a manifestantes para bloquear vias e estradas em protesto contra a política econômica do governo em Machachi, na província de Pichincha, no Equador, na segunda-feira (7) — Foto: Rodrigo Buendia/AFP

Manifestantes indígenas se uniram aos protestos paralisando estradas de todo o país e interditando uma importante rodovia de acesso à capital.

A organização coletiva indígena Conaie disse que as manifestações continuarão até o presidente Lenín Moreno revogar a medida da semana passada que acabou com os subsídios dos combustíveis.

“Mais de 20 mil de nós estarão chegando a Quito para exigir que o governo revogue o decreto”, prometeu o presidente da Conaie, Jaime Vargas. Ele afirmou ainda que a mobilização coincidirá com uma greve nacional programada para a quarta-feira (9).
Também há registros de bloqueios e saques em fábricas no norte e centro do país. Em Cotopaxi, manifestantes invadiram empresas vinícolas, de produção e embalagem, de laticínios, de papel e de flores.

Ao menos 32 fazendas foram invadidas e saqueadas em Toacazo, Tanicuchí, San Agustín de Callo, Mulaló, Joseguango Bajo e Piedra Colorada.
As aulas em escolas públicas e privadas seguem suspensas.

Aumento dos combustíveis

A decisão do governo, baseada em um acordo com o FMI para obter empréstimos de US$4,2 bilhões, deu origem a aumentos de até 123% nos preços dos combustíveis mais usados: o galão de 3,79 litros de diesel passou de US$1,03 para US$2,30, e a gasolina comum de US$1,85 para US$2,40.

 

Fonte: G1 ||
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