Saltam os olhos, como nos desenhos do Pica-Pau, ver a incompletude da lei que deu autonomia ao Banco Central apadrinhada pelos senadores, como não enxergaram o óbvio, que estavam tirando a autonomia ao não restringirem quem poderia ser presidente do BC? Quando alguém do mercado é indicado ao cargo, automaticamente ele se torna subserviente a esse mercado, afinal, quando deixar o cargo, terá que procurar emprego onde?

Já tive a oportunidade de discorrer sobre como a Igreja Católica orienta políticos, empresários e trabalhadores para construir uma nação justa, conforme a Encíclica Fratelli Tutti. Desde a Rerum Novarum, a Igreja condena o comunismo e o socialismo, mas também, com mais ênfase, a exploração humana.

Há dez anos, iniciando seu pontificado, o Papa Francisco lançou sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, ou A Alegria do Evangelho, em que atua com firmeza também contra a economia da exclusão.

Assim como o mandamento “não matar” põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, também devemos dizer não a uma economia de exclusão e de desigualdade social. Não se pode lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. As grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas. O ser humano é considerado descartável e os excluídos não são mais os explorados, mas as sobras. (§53).

Alguns defendem que todo o crescimento econômico, favorecido pelo livre mercado, produz maior equidade e inclusão social no mundo, mas esta opinião nunca foi confirmada pelos fatos. Desenvolveu-se uma globalização da indiferença, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem. (§54).

Uma das causas disso está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós. A crise financeira que atravessamos faz-nos esquecer a primazia do ser humano. A adoração do antigo bezerro de ouro (cf. Ex 32, 1-35) encontrou uma nova e cruel versão no fetichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano. (§55).

Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. (§56).

Escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus. A ética permite criar um equilíbrio e uma ordem social mais humana. Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. (§57). Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio. O dinheiro deve servir, e não governar! (§57).

 

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