A freira suspeita de matar 10 idosos em Divinópolis (MG) foi denunciada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pelos crimes de homicídio, tortura, falsidade ideológica, exercício ilegal da medicina, maus-tratos. Outros 14 ex-funcionários também foram denunciados, entre os crimes, por tortura.

Adelaide Gonçalves Dantas foi contratada, em 2015, como responsável-técnica das Obras Assistenciais São Vicente de Paulo, conhecidas como “Vila Vicentina”. De acordo com a denúncia, todos os crimes foram cometidos sob direção e comando dela.

Entre os denunciados estão: o médico responsável, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, uma funcionária, primeiro secretário, supervisora, o presidente da instituição, o advogado e o tesoureiro. Todos foram afastados das funções em abril passado, no início das investigações.

 

As mortes

As mortes ocorreram entre maio e dezembro de 2021. Todas elas, segundo a denúncia, por omissão. Dois casos, foram destacados com agravantes pela promotora Graziela Gonçalves Rodrigues. Um deles, a de uma idosa morta por “asfixia”.

Na medida que se negou atendimento médico-hospitalar à vítima após sufocamento mecânico em razão de engasgo alimentar sofrido por ela”, detalha Graziela na denúncia.

O outro caso é de um idoso que ficou amarrado nos últimos dias de vida. A freira, além de negar atendimento médico-hospitalar, suspendeu os medicamentos costumeiros. Nos cincos dias que antecederam a morte, ele foi acometido por estado febril intermitente.

Adelaide não permitia que os serviços de urgência e emergência fossem acionados.

 

Torturas e maus-tratos

Além da omissão de socorro, a denúncia relata, com base no inquérito da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), vários casos de torturas e maus-tratos.

Idosos eram amordaçados, amarrados, e forçados a banhos coletivos, gelados e a fazerem as necessidades básicas em baldes. Alguns eram mantidos em cárcere privado em ambientes com grades e cadeados. Eles também eram submetidos a violência psicológica e ameaças de castigos.

Além do completo descumprimento das normas que regem o acolhimento institucional de longa permanência para pessoas idosas, foram criadas rotinas inadequadas, abusivas e cruéis, com consequente submissão dos residentes a situações desumanas, degradantes e de extremo constrangimento”, consta na denúncia.

Segundo a promotora, a situação, com o passar dos anos de atuação da responsável-técnica, foi ficando “calamitosa”.

Passou-se a adotar um regime mais severo para os residentes que “dessem mais trabalho” (sendo essa uma das ameaças cotidianas, inclusive), havendo demonstração no caderno inquisitório de que, pelo menos, 41 dos idosos acolhidos pela ILPI foram trancafiados em cômodos denominados “enfermarias”, relata Graziela.

Sob o comando da freira, os denunciados, em alguns casos, privavam os idosos de alimentos e cuidados indispensáveis.

Adelaide também detinha o receituário e carimbo do médico denunciado. Ela exercia a profissão de médica sem autorização legal, além de curandeirismo, prescrevendo, ministrando e aplicando, habitualmente, substâncias sem qualquer finalidade curativa.

Todos os denuncias seguem soltos. De acordo com a denúncia, “medida de exceção” no decorrer do processo só pode ocorrer em situações específicas concretamente demonstradas. Graziela pediu que os denunciados sejam impedidos de se aproximarem das vítimas e familiares e também de deixarem a cidade.

Ela pede também que os conselhos regionais de medicina e enfermagem apurem a conduta ética-profissional dos denunciados.

A denúncia agora segue para a Justiça que deverá aceitá-la ou não. Em aceitando, os denunciados tornam-se réus e tem início a tramitação da Ação Penal.

 

Fonte: Portal Gerais

 

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