A greve dos servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) completa nesta segunda 77 dias. Desde que começou, no dia 7 de julho, cerca de 247 mil aposentadorias deixaram de ser concedidas no país, 92 mil pedidos de pensão por morte deixaram de ser liberados e mais de meio milhão de auxílios-doença não foram autorizados, além de 133 mil licenças-maternidade, tomando por base a média diária de concessões no ano passado. Esses e muitos outros pedidos de benefícios estão engrossando uma fila virtual que vai explodir quando a paralisação acabar.

“Nenhum novo atendimento deve ser marcado mais para este ano. Quem não está conseguindo agora está sendo reagendado para depois, mas, quando o atendimento voltar ao normal, vai ocupar a vaga de quem daria entrada em um pedido novo”, afirma a presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Jane Berwanger.

Por meio da assessoria de imprensa, o INSS afirma que todo mundo será atendido e reforça que, quem não conseguir durante a greve, deve ligar para o 135 e remarcar.

Segundo Jane, a greve tem sido conveniente para o governo, num momento em que todos os esforços são para cortar e adiar gastos. “Não vemos muito movimento para tentar resolver, e isso não é bom. Além de deixar muita gente que tem direito sem receber, ainda faz gastos à toa. É o caso de quem já está apto a trabalhar, mas não consegue fazer a perícia por causa da greve e continua sendo bancado pelo INSS”, destaca.

Empurrar com a barriga

 Na avaliação do professor de auditoria governamental da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBS), Cláudio Alfradique, ninguém pode afirmar que governo está fazendo isso de propósito, entretanto, considerando o momento de ajuste fiscal, existe uma possibilidade de que a manutenção da greve seja conveniente. “Empurrar a negociação com a barriga só vai adiar um gasto que já deveria ter sido feito. Não é inteligente. O país acabou de ter o grau de investimento perdido e isso pode transparecer mais uma ‘pseudopedalada’”, analisa.

Enquanto servidores e governo não chegam a um consenso sobre as condições trabalhistas, os trabalhadores arcam com o ônus. Seja simplesmente para renovar um cadastro ou dar entrada na aposentadoria, os usuários chegam às agências sem saber se serão atendidos. Aos 92 anos, João Marques Sobrinho saiu de casa para tentar revalidar uma procuração que o autoriza a receber em nome da mulher, que não pode andar. Sem conseguir atendimento, corre o risco de ficar sem o benefício. “E aí, o que vamos fazer para comer? O jeito é costurar a boca, né”, afirma Sobrinho.

O Tempo

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