Até 1996, o risco de morte dos pacientes com HIV era 20% maior

Uma boa notícia para milhares de pessoas infectadas pelo vírus HIV: as chances de vida aumentaram nos primeiros cinco anos de contaminação. Esse é o resultado de um estudo feito por pesquisadores britânicos que comparou o risco de morte de 13 mil homens e mulheres infectados e saudáveis.
Segundo, Kholoud Porter, integrante do Conselho de Pesquisa Médica da Grã-Bretanha e coordenadora do estudo, os portadores do vírus HIV não apresentam chances maiores de morrer do que o restante da população. Até 1996, quando a utilização do coquetel de remédios ainda não estava disseminada, o risco de morte chegava a ser 20% maior.
Dirceu Greco,professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador de Doenças Infecciosas do Hospital das Clínicas, afirma que o resultado obtido no estudo com pacientes ingleses se estende ao Brasil. "Eu digo isso aos meus pacientes. Tomando a medicação corretamente eles terão a mesma expectativa de vida de uma pessoa não infectada pelo vírus. O acesso aos medicamentos no Brasil hoje é fabuloso", comenta.
Para o infectologista, a pesquisa britânica chama a atenção para três aspectos. O primeiro deles é sobre a importância do diagnóstico precoce, porque confirma que a eficácia do tratamento depende, substancialmente, do tempo de contaminação. O problema é que o tempo de incubação do HIV é, em média, de dez anos e muitas pessoas só procuram o diagnóstico após os primeiros sintomas.
Segundo ele, 40% dos diagnósticos no Brasil são tardios. "Ai tudo fica mais difícil, porque o paciente já está com uma doença grave ou com o organismo debilitado. Não que seja impossível reverter o quadro, mas fica bem mais complicado", afirma Greco.
Para o especialista, a única forma de diminuir esse índice é criar uma cultura médica – independente da especialidade – que propicie a discussão da sexualidade de forma mais frequente. "Não temos um treinamento para isso e, da mesma forma que perguntamos ao paciente se ele já teve hepatite, se quer fazer o exame, deveríamos oferecer o teste de HIV como uma forma prevenção. Quem já teve alguma relação sexual sem preservativo, mesmo que tenha sido há 10, 15 anos, deve fazer o teste", aconselha, alertando que não existe mais grupo de risco, mas sim, situação de risco.
Quanto ao acesso à medicação antiviral – outro aspecto fundamental para o aumento da expectativa de vida -, Dirceu Greco afirma que o Brasil tem um programa "invejável".
"A decisão do governo de quebrar a patente desses medicamentos foi fundamental para que hoje 98% dos pacientes com indicação de tratamento tenham acesso aos melhores remédios do mundo de forma gratuita", diz o infectologista.

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