Investigação do valerioduto chega a secretário de Aécio
Procurador-geral solicita apuração sobre tucanos que avalizaram empréstimo à SMPB
Alvos do pedido são Danilo de Castro, secretário de Governo de MG, e Mauri Torres, líder de Aécio na Assembléia Legislativa
Embora centrada em episódios da campanha de 1998 à reeleição do ex-governador de Minas Gerais e hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB), a denúncia da Procuradoria Geral da República sobre o valerioduto tucano deve afetar o futuro político de dois aliados de primeira mão do governador Aécio Neves (PSDB-MG).
Os tucanos Danilo de Castro e Mauri Torres -secretário estadual de Governo e líder de Aécio na Assembléia Legislativa, respectivamente- avalizaram, em novembro de 2004, após as eleições municipais, empréstimo de R$ 707 mil que a agência de publicidade SMPB, então de Marcos Valério, tomou no Banco Rural. Ambos dizem ter atendido a um pedido pessoal de Ramon Cardoso, ex-sócio de Valério.
A denúncia da Procuradoria pede que a conduta de Castro e Torres seja apurada pelo Ministério Público de Minas. Cita que as agências de Valério SMPB e DNA ganharam licitações no governo mineiro justamente sob Castro como responsável pelo certame. Em 2004, a SMPB também atendia o Legislativo mineiro.
Ocorre que a Promotoria mineira já investiga o caso desde fevereiro de 2006, a partir de reportagem da Folha que revelou o episódio. Aguarda há meses o envio de laudo do Instituto Nacional de Criminalística sobre o destino do empréstimo, incluso na denúncia do procurador-geral, para definir o andamento da apuração.
Se for comprovado, por exemplo, que o dinheiro abasteceu candidaturas municipais naquele ano, Castro e Torres -importantes operadores políticos de Aécio- deverão ser acionados por improbidade administrativa. Caso os recursos tenham circulado apenas dentro da SMPB, como alega Valério, a investigação é arquivada.
A apuração do Ministério Público mineiro começou nas mãos de promotores de primeira instância. Em maio de 2006, Torres, então presidente da Assembléia, avocou foro privilegiado, ao qual tinha direito, e o procedimento subiu à Procuradoria-Geral de Justiça.
A investigação pouco andou enquanto esteve na Procuradoria-Geral de Justiça. Houve apenas envio de ofícios a Castro e Torres para que se manifestassem sobre o empréstimo. As respostas foram curtas e semelhantes: ambos disseram desconhecer eventual destinação política do empréstimo e afirmaram que o aval fora apenas uma formalidade bancária.
Em depoimento em outra apuração da Promotoria mineira, a que investiga exatamente o valerioduto tucano, Ramon Cardoso -ex-sócio de Valério- disse que o aval de Castro e Torres fora uma ação entre amigos, uma idéia que surgiu durante uma reunião, em um ato quase sem sentido, apenas para atender interesses dele e de seus ex-sócios.
Como Torres deixou a presidência do Legislativo mineiro em 2007, a investigação voltou, em abril, para promotores de primeira instância. Outro ponto a emperrar seu andamento é a recusa, pelo Banco Rural, de enviar a documentação relativa ao empréstimo. O banco alegou sigilo bancário para não encaminhar o material.
O procurador-geral da República também recomendou que o caso seja investigado sob enfoque criminal. A apuração da Promotoria mineira procura eventuais irregularidades na esfera cível, mas apenas seus desdobramentos poderão dizer se há crime no caso. Se os recursos tiverem tido como destino os próprios avalistas, por exemplo, eles poderão ser denunciados por corrupção (receber vantagem indevida em razão do cargo).

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