A extração excessiva de água subterrânea está provocando o afundamento acelerado do solo em diversas regiões do Irã, segundo um estudo publicado em agosto no Journal of Geophysical Research: Solid Earth. Em algumas áreas, a subsidência já ultrapassa os 30 centímetros por ano, colocando cidades inteiras em risco de colapso estrutural e escassez de recursos hídricos.

De acordo com a pesquisa, mais de 31 mil km² do território iraniano já apresentam movimentos descendentes com velocidade média de 10 mm ao ano. Em locais como Rafsanjan, no centro do país, o solo cede a uma taxa alarmante de mais de 34 cm anuais. “A curto prazo pode parecer pouco, mas, se continuar nesse ritmo, o solo pode afundar de 3 a 4 metros em uma década. É realmente grave”, alerta Jessica Payne, doutoranda da Universidade de Leeds (Reino Unido) e autora principal do estudo, em entrevista ao site Live Science.

O problema está ligado à dependência do Irã de aquíferos subterrâneos, responsáveis por cerca de 60% do abastecimento hídrico nacional. A situação se agrava com a combinação de secas prolongadas e agricultura intensiva, especialmente na produção de pistache, uma das principais culturas do país.

O estudo revela que 77% das áreas que afundam mais de 10 mm por ano coincidem com zonas agrícolas. Em Bardaskan, no norte do país, a área afetada cresceu 40% desde 2008, totalizando agora 1.110 km² de solo em subsidência.

Jessica Payne explica que a maior parte da subsidência é irreversível. Ela compara os aquíferos a um “balde de areia e lama”: quando a água é retirada, as partículas se comprimem, e o solo afunda permanentemente — mesmo que volte a chover.

Os impactos do fenômeno vão além da perda da capacidade de armazenamento hídrico. O afundamento causa fissuras no solo, danos em edifícios, estradas e ferrovias. Em Karaj, cidade próxima à capital Teerã, mais de 23 mil moradores vivem em áreas de alto risco. Grandes centros urbanos como Teerã, Isfahan e Shiraz enfrentam ameaças crescentes, com relatos de prédios sendo abandonados devido à instabilidade do solo.

Além da infraestrutura urbana, a subsidência compromete a segurança alimentar, já que a irrigação agrícola depende das mesmas reservas subterrâneas em esgotamento. O colapso dos aquíferos, portanto, representa uma ameaça dupla: enfraquece as bases físicas das cidades e reduz a resiliência hídrica de um país já castigado por estiagens severas.

Embora o Irã seja atualmente o caso mais crítico, especialistas alertam que a subsidência é um fenômeno que atinge diversas partes do mundo. O estudo serve como um alerta global sobre a importância da gestão sustentável dos recursos hídricos e da preservação dos aquíferos subterrâneos — essenciais tanto para a segurança hídrica quanto para a estabilidade dos territórios.

Com informações do O Globo

 

COMPARTILHAR: