Uma decisão inédita da Justiça obrigou a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) a providenciar ontem a internação de uma adolescente de 14 anos viciada em crack. Com histórico de dois anos de dependência da droga e jurada de morte por traficantes, a menor foi beneficiada por uma determinação expedida pelo juiz Marcos Flávio Lucas Padula, da Vara Cível da Infância e Juventude de Belo Horizonte.
Na decisão, de quarta-feira (13), o magistrado determinou o encaminhamento imediato da menor a uma clínica para dependentes químicos. Nesta quinta-feira (15), 24 horas após a decisão, a adolescente deixou a casa da mãe para se internar. O local do tratamento, fora da capital, está sendo mantido sob sigilo. Estou feliz porque vou sair dessa vida de sofrimento e vou me curar, disse a garota ao entrar no carro dos voluntários da ONG Defesa Social, que providenciou a ação judicial.
Essa é a primeira vez na capital que o governo estadual é intimado a custear o tratamento de um viciado em drogas, de forma emergencial. No último dia 6, a ONG acionou a Defensoria Pública e em apenas uma semana a Justiça determinou a internação.
Para a mãe da menor, uma auxiliar de cozinha, de 37 anos, a internação é o fim de um sofrimento que se arrasta há dois anos, desde que a filha, aos 12 anos, deixou a casa da família e passou a viver sob as ordens de traficantes de um aglomerado da capital. Nesse período, conta a mãe, a menina abandonou os estudos, se prostituiu e engravidou quatro vezes.
Em todas as gestações, provocou abortos. Ninguém me ajudava. Me vi desesperada e tomando calmante para dormir. É angustiante ver um filho morrendo e não poder fazer nada, contou a auxiliar de cozinha, que acompanhou a filha até a clínica onde a menor ficará por pelo menos seis meses.
Nos argumentos apresentados à Justiça, a defensoria alertou para o risco de morte da adolescente tanto pela dependência de crack quanto pelas ameaças que vinha sofrendo dos traficantes.
Em uma das raras passagens pela casa onde vive a mãe e a avó, há um mês, a adolescente chegou com quadro de overdose, arrastada por marginais, após levar uma surra. Uma semana depois, estava de volta à boca do fumo. Há dez dias, foi esfaqueada pelo namorado, que também é viciado.

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