Da Redação

Em inquérito que tramita no Judiciário, a Polícia Civil solicitou que fosse decretado o afastamento do médico obstetra envolvido na morte de uma recém-nascida na Santa Casa de Caridade de Formiga.

A juíza da Vara Criminal, Lorena Teixeira Vaz, acolheu as razões apresentadas pelo delegado que presidiu o inquérito, Ricardo Bessas e pelo Ministério Público, por meio da promotora Clarissa Gobbo dos Santos, e determinou, dentre outras medidas protetivas, que o médico em questão seja proibido de exercer a profissão nos órgãos de saúde, na Comarca de Formiga.

A fiança estabelecida em R$ 50 mil, de acordo com a sentença, tem a finalidade de servir para reparação de danos em caso de futura condenação do representado.

Também foi determinado que o representado deverá comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado, não podendo o mesmo mudar de residência sem prévia comunicação à autoridade processante ou, ausentar-se por mais de oito dias de sua residência, sem comunicar o lugar onde será encontrado.

Em caso de descumprimento destas condições, importará o quebramento da fiança com a consequente decretação da prisão preventiva.

Relembrando o caso:

O caso ocorreu no início do mês de março. A menina, filha de Alessandra da Silva, faleceu um dia após o parto, na unidade de saúde.

Alessandra deu à luz a Sofia Menezes Silva no dia 7 de março e segundo a dona de casa, ela só conheceu a filha no caixão.

A gestante deu entrada no hospital no dia anterior ao parto sentido muitas dores que persistiram até o outro dia, quando o marido solicitou ao médico que fosse realizada a cesariana. “Falou [o médico] que eu era gorda, estava obesa e não podia fazer a cesárea porque poderia pegar uma infecção, uma bactéria por causa da gordura, aí ele [o médico] não quis fazer a cesárea”, disse Alessandra.

Segundo apurado pelo portal Últimas Notícias, a morte de Sofia se deu por asfixia. Alessandra entrou em trabalho de parto com 40 semanas e dois dias e Sofia nasceu pesando 4,600 quilos.

Outras denúncias contra o médico

Ainda segundo informações apuradas pelo portal, o médico está envolvido em outros casos de complicações havidas durante partos que atendeu em Formiga, Piumhi e Bambuí.

O outro caso registrado em Formiga ocorreu com Simone Antônia Pinto, cuja filha morreu um dia após o parto realizado também em 2019.

Em novembro de 2011, durante uma cesariana, o médico teria perfurado o intestino de uma paciente. A mulher ficou internada por cerca de um mês com fortes dores abdominais e o caso só foi constatado após o agravamento do quadro clínico dela. Este caso ocorreu em Bambuí.

Em outubro de 2012, o médico teria esquecido uma compressa de pano dentro de vítima após o parto e em abril de 2014, uma mulher usou as redes sociais para denunciar o descuido do profissional durante o parto dela. Estes dois casos foram registrados em Piumhi.

Além destes, o UN apurou que o médico apresenta ainda, antecedente por homicídio culposo em Três Pontas, no Sul de Minas.

Repercussão do último caso em Formiga

O caso de Alessandra repercutiu em Formiga em grande intensidade e causou além de enorme consternação, muita revolta.  Foi grande o número de mulheres que usaram as redes sociais para denunciar o descaso do médico com as pacientes, onde o mesmo chegou a ser comparado a um “açougueiro”.

O que disse a Santa Casa

No dia 14 de março, logo após a divulgação do último caso, a Santa Casa emitiu uma nota informando que o obstetra solicitou afastamento do hospital até o final das investigações.

Agora, ampliando a medida, segundo apurado pelo portal, a Polícia Civil solicitou à Justiça o afastamento do médico das funções dele em todas as unidades de saúde de da Comarca, que engloba além de Formiga, as cidades de Córrego Fundo e Pimenta.

O que diz o delegado

O delegado Ricardo Bessas (foto: arquivo)

Em entrevista, o delegado de Polícia responsável pelo caso, Ricardo Bessas, se manifestou: “Sabe-se que a Santa Casa de Formiga é composta por excelentes profissionais em seu corpo clínico. Todavia, há indícios de reiteradas condutas desarmoniosas com o ordenamento jurídico, fato que colocou em risco a saúde pública, motivo pelo qual a Polícia Civil, por cautela, manifestou ao Judiciário pelo afastamento do investigado de todas as atividades médicas de atendimento público no âmbito da comarca de Formiga/MG até que sejam concluídas as investigações policiais”, ressaltou o delegado.

Santa Casa

O UN entrou em contato com a Santa Casa para saber quais os critérios seriam adotados pela entidade quando da contratação de médicos, uma vez que, é sabido que pesam em desfavor do profissional em questão vários casos de problemas durante a realização de partos realizados por ele anteriormente em outras praças.

Por meio de nota, a entidade afirmou que: “Respondendo ao questionamento feito anteriormente, a contratação de médicos na Santa Casa de Formiga é feita com a conferência total da documentação: currículo, dados atualizados junto ao CRM e sobre a especialização do mesmo. Esta mesma documentação é apresentada aos membros do Corpo Clínico para que, após alguns meses de trabalho na instituição, este seja incluído no grupo”.

Alertas

Janeiro de 2017 – A Comissão Especial de Saúde da Câmara Municipal de Formiga, então composta pelos vereadores José Geraldo da Cunha  (Cabo Cunha);  Joice Alvarenga  Borges Carvalho e Sandromar Evandro Vieira (Sandrinho  da Looping), por meio do Requerimento de número 001/2017, assinado pelo vereador Sidney Ferreira, foi instada a “averiguar denúncias e se necessário, tomar as providências sobre o atendimento prestado pelo médico em caso relatado pelo vereador, tendo com paciente a gestante F. C (nome completo declarado no requerimento).

Junho de 2018 – Mais uma vez, por iniciativa do vereador Sidney Ferreira, a Comissão Especial de Saúde – desta feita composta pelos vereadores
Sandromar Vieira (presidente), Marcelo Fernandes (relator ) e Joice Alvarenga (membro) recebeu o requerimento 65/2018 – onde Sidney relata detalhes da fala da enfermeira Tassiana Tavares, na Câmara, acerca da conduta de profissionais no tocante aos procedimentos de assistência ao parto, pedindo que tudo fosse averiguado.  Violações verbais, físicas, procedimentos invasivos que não se justificam e outras informações trazidas a público pela enfermeira que, afirmou que cesáreas eram marcadas para ocorrerem de acordo com a agenda do médico, desrespeitando o tempo e vida do bebê que não podia nascer em finais de semana ou feriados. Apenas de segunda às sextas, sempre às 7h, conforme relata o documento.

 

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